Era fim de novembro, eu tinha 15 anos, morava em Gravataí e fui buscar meu boletim na escola. Na volta, vi um cartaz na vitrine de uma loja avisando que precisavam de vendedores temporários. Entrei, disse que queria trabalhar, conversamos e já comecei ali mesmo a aprender a função que desempenharia nas semanas seguintes, alucinadamente, até o Natal. E continuaria por mais alguns dias depois, aproveitando o movimento de trocas de presentes e novas vendas.
A loja tinha uma pequena fábrica atrás, onde eram produzidos biquínis, maiôs, calções de banho e lingeries em geral. Eu ganhava por comissão e vendia loucamente. Com o dinheiro, comprei os primeiros presentes que dei na vida para meus pais e meu irmão, além de ter feito o primeiro depósito em um investimento que, dez anos depois, seria usado para comprar meu apartamento.
Além do dinheiro, tive a primeira experiência que abriu, com orgulho, meu currículo por vários anos. Aliás, até hoje, mais de 20 anos depois, entrevisto empresários do varejo com um certo conhecimento de como funciona o riscado.
Conto essa história aqui na coluna porque estamos em plena época de contratação de temporários, noticio várias dessas vagas e as empresas seguem implorando para eu noticiar mais, porque não estão conseguindo preenchê-las. Lojas e o setor de serviços ainda buscam candidatos para o forte das vendas de Natal e para a temporada de férias. Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego segue alta no Rio Grande do Sul, com mais de 540 mil pessoas sem trabalho, segundo a estimativa do IBGE.
Eventualmente, alguns leitores e ouvintes comentam nas postagens dizendo que não querem trabalho temporário e vão esperar uma vaga permanente. Esquecem, no entanto, que é uma oportunidade de entrar ou voltar ao mercado de trabalho, acrescentar experiência ao currículo, mostrar que merece ser efetivado ou, ao menos, retomar a rede de contatos.
Em outros casos, há reclamações sobre o salário ser baixo e, muitas vezes, é mesmo. Mas pense se, ao menos, não dá para pagar alguns boletos do mês, comprar os presentes de Natal sem endividar-se demais ou mesmo ter uma graninha para as férias. Salvo, claro, quem teria que gastar mais do que ganharia para conseguir trabalhar, como achar lugar para deixar os filhos ou os idosos da família. Nesse caso, é compreensível a ponderação se vale encarar a vaga.
Em tempo, para quem ainda está em dúvida, os benefícios para o trabalhador temporário são os mesmos do efetivado. Tem FGTS, férias e 13º salário proporcional. Só não tem o pagamento de aviso prévio e da multa de 40% do fundo de garantia, já que não há demissão no contrato de trabalho por tempo certo.
— E mais, o trabalhador saca esse dinheiro no final do contrato temporário, mesmo que ele seja efetivado! — detalha o diretor regional da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem) e presidente da Explorer, André Fraga.
O final de ano deve gerar quase 11 mil vagas temporárias de emprego no Rio Grande do Sul. Para ser bem exata, a Asserttem identificou 10.956 oportunidades na pesquisa que enviou para a coluna Acerto de Contas. No ranking nacional, o Estado fica em oitavo lugar.
Colunista Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
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