Quadro Fique de Olho, no programa Acerto de Contas do último final de semana. Domingos, às 6h, na Rádio Gaúcha. Com Francine Silva.
Não é só quem tem dinheiro que consegue empreender. Também não é preciso ficar sentado em um escritório chique das grandes cidades. Vinicius Mendes Lima nasceu no bairro Vila Nova, em Porto Alegre, e estudou nas escolas públicas Vila Monte Cristo e Cruzeiro do Sul. Aos 14 anos, já vendia cartões de presente em livrarias e bancas de revistas. Aos 15, resolveu montar uma banquinha de crepe. No fim daquele ano, já tinha oito "filiais" em escolas da cidade.
Fascinado pelas oportunidades, seguiu nos estudos, se formou em Administração, fez pós e mestrado. E sabe qual o tema da pesquisa? A riqueza nas favelas.
— Tem muito dinheiro ali. Esses trabalhadores e negócios nas comunidades geram cerca de R$ 13 bilhões de forma lícita. Estamos falando de um potencial enorme de crescimento porque não é tão explorado como poderia — explica.
Lima se debruçou sobre o consumo nas maiores favelas do Rio de Janeiro e Bueno Aires, mas voltou para Porto Alegre justamente para ajudar as periferias gaúchas. Segundo ele, há muito espaço para crescer.
— No próprio Cantagalo, no Rio de Janeiro, tem comércio forte como aqui na Restinga. A Bom Jesus, em Porto Alegre, não é tão forte. Poderia ter mais comércio, já que são 30 mil pessoas vivendo ali. A Mário Quintana também poderia ter mais negócios, são cerca de 20 mil pessoas. Tem um potencial enorme para se desenvolver nessas comunidades. Potencial que, às vezes, o poder público esquece, como também a iniciativa privada, que poderia lucrar com isso — defende.
Foi pensando em ajudar essas comunidades que ele criou a Besouro, uma agência de fomento social responsável por desenvolver planos de negócios para pessoas em vulnerabilidade social. Para ele, basta um sonho para que o negócio consiga dar certo.
— Tem muita chance de dar certo, mas depende muito mais da gente do que de recursos financeiros. Basta querer — afirma.
Aplicando um método criado por ele mesmo, Vinicius ampara pequenos empreendedores das comunidades. Toda a consultoria é gratuita, através de parcerias com prefeituras, governos estaduais e até federais, como também instituições privadas.
— Diariamente, em todos os veículos de comunicação, destacam-se os problemas, as violências nessas comunidades. Mas isso é nem 10% do que acontece. Os outros 90% são pessoas boas e com dinheiro girando ali — observa.
Hoje, com 32 anos, ele contabiliza R$ 4 milhões em negócios amparados pela Besouro. Pequenos mesmo, enfatiza, já que vão desde a venda de coxinha no copo a salão de beleza especializado em cabelo rastafari.
— Esse tipo de negócio é aquele que gera emprego rápido, talvez não em volume, mas um, dois ou cinco postos de trabalho. O Brasil só sobrevive a essas diversas crises financeiras e política graças aos microempresários, que são 99% das empresas do país — salienta.
Junto com a Associação de Jovens Empresários (AJE) e a Coordenadoria Municipal de Juventude de Porto Alegre, a Besouro desenvolveu o Prêmio Baita Empreendedor. O troféu foi entregue no último dia 16 para Tainná Santos, 22 anos, criadora do projeto ''Mulher Não Fica Empenhada''. Capacita mulheres para resolverem sozinhas problemas automotivos. O segundo lugar ficou com a Giorgia Santos, 37 anos, que desenvolve artesanato a partir de escamas de peixes. A terceira premiada foi Bruna Militão da Silva, 25 anos, que já foi moradora de rua e hoje sustenta a casa como proprietária de um brechó. A distinção de reconhecimento pelo trabalho empreendedor também ficou com uma mulher. Eliane Nunes dos Santos, 27 anos, está à frente do negócio "Coxinha no copo''.
A metodologia By Necessity, criada pelo Vinícius e aplicada com empreendedores de comunidades das periferias e favelas, já teve reconhecimento internacional como uma das três mais impactantes na reunião de Cúpula de Ministros da Juventude do G20, em maio, em Madri.