Uma disputa entre duas empresas gerou o cancelamento de 5 mil passagens aéreas nas últimas semanas. A maioria havia sido emitida para consumidores gaúchos.
Chamadas de consolidadoras, as duas empresas ficam no meio da relação entre as agências de viagens e as companhias aéreas. No caso em questão, é a Prime Consolidadora, de Porto Alegre, que recebia o pedido da agência e fazia a compra via Intercontinental Turismo, de Vitória (ES).
A coluna Acerto de Contas tentou contato com as duas pelos telefones comerciais e não conseguiu. No entanto, a Associação Brasileira de Agências de Viagens informa que houve desentendimento quanto a dívidas e a Intercontinental cancelou as milhares de passagens, alegando inadimplência da Prime. Como a empresa é de Porto Alegre, a maioria dos tickets tinha sido comprada no Rio Grande do Sul, informa a Abav-RS.
Diretor regional Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav-RS), João Augusto Machado calcula um prejuízo de até R$ 8 milhões para empresas do setor, que bancaram a emissão de novas passagens para os clientes. A relação do consumidor, afinal, é com a agência. Há relatos de algumas empresas estão quebrando, inclusive.
- Eu tive uma passagem cancelada de R$ 5 mil. Para reemitir no mesmo horário, pagaria R$ 20 mil. Conversei com a cliente para fazermos alguns ajustes e consegui por R$ 9 mil. São centenas de agências com casos assim e que relatam prejuízos de até R$ 300 mil - conta Machado.
Consultor jurídico da Abav-RS, Miguel Holdefer também está representando mais de 20 agências de viagens que foram afetadas. O advogado diz que a Prime conseguiu uma liminar na Justiça determinando que a Intercontinental reemita todas as passagens. No entanto, por estar inadimplente, a empresa do Espírito Santo perdeu a chamada "IATA" (International Air Transport Association), autorização necessária para compra de passagens de companhias aéreas.
- A saída para as agências é buscar na Justiça o ressarcimento do prejuízo provocado pelas consolidadoras. Há casos de clientes com passagens de R$ 10 mil canceladas e que tiveram que gastar R$ 50 mil - diz Holdefer.
O transtorno só não virou incêndio porque as agências estão bancando as novas passagens. Diretora do Procon de Porto Alegre, Sophia Martini Vial diz que o órgão ainda não recebeu reclamações. Sabe-se, no entanto, que não há mágica financeira. As agências terão que compensar o prejuízo, cortando gastos ou aumentando preços.
Contraponto:
Após a publicação da coluna, recebemos o contato do advogado da Prime, Alexandre Chaves Barcellos. Segundo ele, a empresa não está inadimplente com a Intercontinental.
— A Prime sofreu um golpe. A Intercontinental quintuplicou recentemente a emissão de passagens sem capacidade de pagamento — afirma Chaves Barcellos.
O advogado ainda reforçou que uma liminar da Justiça foi obtida pela Prime e que determina a reemissão das passagens aéreas e a suspensão dos cancelamentos, sob pena de multa. No entanto, ainda não se conseguiu intimar a Intercontinental. Segundo Chaves Barcellos, o escritório do endereço foi fechado, mas já foi encontrado um novo ponto comercial e uma nova tentativa ocorrerá na semana que vem.