O coronavírus percorre o planeta como maldição e pânico. Pergunto-me, porém, se não há um erro de interpretação em parte do que se diz. Vemos as consequências sem ir às causas profundas que geraram o vírus maldito.
Em 1920, a "gripe espanhola" matou milhões mundo afora. O horror tinha surgido dos cadáveres insepultos da Grande Guerra de 1914-18, quando não havia antibióticos nem a ciência se desenvolvera como hoje. Agora, porém, nos interessamos em saber as consequências econômico-financeiras provocadas pelo vírus (com as bolsas de valores despencando pelo mundo) sem ir às causas do novo horror.
Nada surge das nuvens, como chuva. Não por acaso, o coronavírus nasceu na China, que desprezou a natureza para se industrializar. Ao optar por uma visão falsa de progresso, a China inverteu a ordem natural, colocando o dinheiro do dia a dia acima da saúde e da vida em si. Nos últimos anos, a China percebeu o erro brutal e, hoje, busca energias limpas, evitando o carvão mineral que cobriu com cinzas cidades e campos.
Mas a soma das consequências já tinha iniciado o processo nefasto que gerou o novo vírus, que agora se propaga pelo mundo e nos amedronta. Toda epidemia é fruto da degradação do meio ambiente pela sujeira profunda, seja de que tipo for. Começa no lixo caseiro, vai ao desleixo das indústrias e da mineração e chega aos agrotóxicos que consumimos nos alimentos. Na moderna sociedade de consumo, está no ar, nas águas ou terras e nos assalta no lar, mas agimos como quem não se banha e usa perfume francês para iludir o fedor.
No quase pânico atual, o essencial não é a queda das bolsas de valores e do PIB, mas alertar sobre as causas concretas que geraram o novo vírus. Fora disso, é usar máscaras para disfarçar a insensatez de ignorar as causas do horror.
Vale o óbvio: higiene não gera doenças!
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No Brasil, porém, como preocupar-se com o coronavírus quando o presidente da República propaga o absurdo e se associa aos que pedem a dissolução do próprio Estado?
O vídeo que Bolsonaro difundiu em apoio à manifestação contra o Congresso e contra o Supremo Tribunal é um ultraje à convivência dos brasileiros. Só os ditadores prescindem do Legislativo e, mais ainda, do Supremo Tribunal. Nosso Congresso está cheio de ignorantes, corruptos ou vorazes demagogos (e Bolsonaro foi deputado por vários anos) mas a culpa é nossa, dos eleitores, nunca do Legislativo em si.
O Supremo Tribunal, às vezes, erra, mas ainda é o único que nos salva da desesperança e do absurdo. Ao apoiar os que querem "acabar" com o Legislativo e o Judiciário, Bolsonaro gera mais pânico que o coronavírus, pois é maldição nascida aqui.