Quando o amor à humanidade se conjuga no dia a dia com pertinácia e dedicação ao trabalho ou à ciência, atingimos o Éden. O paraíso descrito nos livros sagrados vive, então, dentro e fora de nós sem nesga de vaidade ou orgulho, na certeza de que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus.
Penso nisto ao lembrar que na última quinta-feira ocorreram os 30 anos do primeiro transplante de pulmão na América Latina, realizado em Porto Alegre a 16 de maio de 1989, na Santa Casa de Misericórdia. Os médicos J. J. Camargo e Dagoberto Godoy (tal qual toda a equipe) não almejaram recompensa financeira nem se fantasiaram com a pose ridícula da fama. Ao salvarem uma vida, certificaram-se de que podiam salvar milhares de outras.
Quão diferente foi tudo aquilo do comezinho e desumanizado mundo que, hoje, nos rodeia sob o comando das gananciosas quinquilharias da sociedade de consumo!
A medicina é ressuscitadora em si e, talvez, seja o último recanto que a cobiça não domina nem dá as pautas. Hoje, quando (além da política) se adultera o leite ou se artificializa o amor, surgem até os que inventam "igreja$" e se fanta$iam de prepo$to$ de Deus para enriquecer.
Por isto, curvo-me ante a abnegação e seriedade cujo símbolo é esse primeiro transplante. Daí veio, talvez, a ternura que J.J. Camargo nos transmite ao escrever. Festejemos!
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Mas há, também, outra lição a extrair. O jovem transplantado aos 27 anos, durou apenas outros 10 anos e meio por ter regressado à velha vida que, antes, lhe havia destroçado a vida. Voltou a fumar e a trabalhar sob ar infecto. Morreu de um enfisema.
Não tomou a sério a si mesmo nem entendeu que somos fruto também da vida que nos rodeia, do ar que respiramos, da água que bebemos e da preocupação que nos assedia, não só da genética herdada.
Reli agora artigos e entrevistas do médico norte-americano Alan Lockwood, membro do ´Physicians for the Prevention of Nuclear War`, organismo que em 1985 recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em que alerta sobre "o tom assassino" do uso do carvão e dos combustíveis fósseis. Nas zonas carboníferas dos Estados Unidos, além de doenças pulmonares e cardíacas, cresceram casos de apoplexia e redução da capacidade intelectual, mostrando que o ambiente em que vivemos pode ser fonte de vida ou de doenças e morte.
Vale como tema de reflexão.
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P.S. — Terça-feira, dia 21, às 18h:30m, discorro sobre a pintura de Clara Pechansky, junto com Liana Timm, na Galeria Gravura, Rua Corte Real 647.