Primeiro, lá por 1980, lebres, preás e outros animais nativos começaram a morrer nos campos, mas não nos importamos. Não éramos nós. Depois, a acidez da erva-mate gerou distúrbios intestinais, mas era no chimarrão e não ligamos. Há pouco, adicionaram soda cáustica ao leite e nem vimos o crime.
Agora, abelhas morrem em massa em regiões do Estado, mas seguimos inertes quanto ao uso abusivo e indiscriminado de pesticidas na agricultura, que o vento espalha pelos quatro cantos. A continuar assim, o poema de Brecht (sobre o início do nazismo na Alemanha) chegará como profecia ao Brasil do século 21: "Agora é minha vez, mas já é tarde. Como não me importei com nada, ninguém nem nada se importa comigo".
A morte de milhões de abelhas alerta para a brutal destruição da obra da Criação a partir da cobiça. A abelha é fundamental no equilíbrio da natureza, não só um produtor de mel. Fecunda flores, desenvolve frutas, sementes e pastos. Os herbívoros dependem dela e sem elas não há pecuária ou agricultura sã. Nem vida.
O crime está à mostra. O uso brutal de pesticidas para "aumentar" a safra da soja engorda
as estatísticas e aplaudimos, sem perceber que festejamos nosso suicídio na morte da natureza.
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Mas, por que preocupar-se "com abelhas" se, à frente do nosso nariz, todo dia pessoas matam pessoas para roubar ou estuprar ou só pela sanha de ver sangre jorrar?
Já nem falo dos governantes e políticos que, pelo engano e falsidade, matam nossos sonhos e o futuro, mentindo, roubando ou pregando o ódio e a discriminação. Neles, o crime se encobre no poder de governar.
Falo da violência explícita da fúria e do sangue. Os recentes casos de feminicídio mostram o machismo de uma sociedade guiada pela ignorância e a estupidez. O crime desta semana em Triunfo foi modelo de horror.
A pretexto de "solução", os governantes vão construir mais presídios, colocar mais gente na cadeia e fabricar "doutores no crime" que, ao cumprir a pena, nos matarão nas ruas. É como dar analgésicos a um enfermo grave e febril, sem ir à causa da doença.
A vulgaridade domina a sociedade atual e tudo é violento. Para consumir, tudo vale. O engano domina as relações mercantis e falseia até o amor. A música sem melodia é um tum-tum-tum violento com letras estúpidas ou obscenas. Em nome de Deus, falsas religiões sepultam o sagrado em busca de dinheiro. O narcotráfico é rei acima da lei.
Nesse ambiente criminoso, cresce a violência e os violentos. E o mel é amargo fel.