O microcosmo da podridão que assola o país instalou-se abertamente nos últimos dias em Canoas, sob nosso nariz, sinal de que o Rio Grande não é uma ilhota intocada no poluído mar da corrupção.
Ainda não chegamos ao nível do Rio de Janeiro (onde surgem os truques milionários do assessor do deputado Flávio Bolsonaro), mas já podemos competir, ainda que, lá, o governador Pezão e "o ex" Sérgio Cabral sejam grandes campeões, como os touros da Expointer.
Ordeira, operosa e empreendedora, Canoas é, também, a caricatura do que somos. Primeiro, descobriu-se um desvio de R$ 40 milhões do tal Gamp – Grupo de Apoio à Medicina Preventiva –, ainda dos tempos do ex-prefeito Jairo Jorge (e, talvez, pipocando no atual) em que agora mandava a filha do secretário municipal de Direitos Humanos… Depois, a desolação: extensas áreas do solo e subsolo do populoso bairro de Niterói estão contaminadas com cromo, metal pesado tóxico, responsável por diferentes tipos de câncer e trombose.
A contaminação tem 40 anos e provém da "fábrica de cromo", como os canoenses chamavam, com orgulho, a indústria fechada nos anos 1980. Além de contaminar as hortas caseiras numa área que pode chegar à Base Aérea e à universidade, espalhou-se pela napa subterrânea. Hoje, é perigoso até perfurar um poço para lavar automóveis…
O prefeito decretou "emergência na Saúde", mas, e daí? O decreto limpa solo e subsolo? Cura quem, ao longo dos anos, foi acometido de câncer e trombose? Onde fica a responsabilidade empresarial?
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Desvio$ e fraude$ podem ser recuperados, mesmo em parte, mas o foco contaminante permanece pelos séculos dos séculos. Este desprezo pela obra da Criação é aviltante, mas é encarado apenas burocraticamente pelos que mandam.
O futuro governador Eduardo Leite, por exemplo, reunirá em uma só secretaria os cuidados do meio ambiente e a construção da infraestrutura estadual, quase como juntar veneno e antídoto no mesmo frasco. Escolheu Artur Lemos, ex-secretário de Minas e Energia de Sartori, mostrando que a área energética (em que ele é experiente) terá prioridade. A natureza e a vida ficarão em plano inferior?
A preservação ambiental esteve ausente de toda campanha eleitoral. Os candidatos a governador ignoraram o que, hoje, preocupa a ciência e os grandes estadistas mundiais (da alemã Angela Merkel ao francês Macron e ao chinês Xi Jinping), como se a natureza não nos protegesse.
Optamos pelo rio sem canoas, guiados pela estupidez de Trump?