A pergunta que mais ouço sobre a eleição presidencial é inquietante e aterradora – qual o mal menor?
Já não buscamos o melhor caminho. Nos contentamos em optar por quem menos machuque. Ou por quem odeie menos. E que seja sereno, respeite os direitos e a dignidade pessoal, tal qual foram respeitados nestes anos de democracia. E que assegure as liberdades, a começar pela liberdade de divergir e apontar erros.
A opção não está entre os dois candidatos de agora. Votaremos em um deles, mas eles não estão em jogo. Nem Bolsonaro, apagado deputado durante 27 anos e que prega "resolver tudo à bala, na porrada", "numa guerra civil" e até "com tortura". Nem Haddad, medíocre ex-ministro de Educação que fez tradicionais universidades privadas virarem objetos de especulação na Bolsa de Valores e, agora, promete "baixar o preço do botijão de gás".
Muitos dizem que, agora, optaremos entre civilização e barbárie. De fato, estamos entre dois abismos e nos sobra, apenas, optar pelo precipício conhecido, aquele em que sabemos até onde o pé afunda.
***
Neste 27 de outubro de 1965, há 53 anos, o Ato Institucional nº 2 assinado pelo marechal Castelo Branco ampliou o poder ditatorial do regime nascido do golpe de 1964. A arbitrariedade virou lei até que, anos depois, no governo do general Ernesto Geisel começou a distensão que levou à democracia atual.
O gaúcho Geisel morreu lúcido em 1996 e, anos antes, em depoimento ao Centro de Documentação da FGV, no Rio, advertiu sobre os políticos que (no próprio Congresso) buscavam um golpe para "voltar à ditadura".
– E não é só o Bolsonaro, não!–, explicou Geisel às folhas 112 e 113 de um livro de 494 páginas, referindo-se ao já então deputado e frisando: "Não contemos o Bolsonaro, pois ele é completamente fora do normal, e inclusive foi um mau militar".
O terremoto do primeiro turno sacudiu também os Estados Unidos e a Europa, onde a imprensa é guardiã das liberdades. O liberal The New York Times chamou Bolsonaro de "repulsivo". Em Londres, The Economist, a mais influente revista financeira do mundo, voltou a criticá-lo advertindo para "a dinastia" formada por ele e pelos filhos, um senador e o outro deputado mais votado do país. O espanhol El País vê Bolsonaro virando ditador pelo voto, como Maduro na Venezuela.
Aqui, o debate pela TV entre os dois candidatos resolveria dúvidas, mas Bolsonaro fugiu. Restou quase só o fanatismo irracional e decidiremos sem a luz que faz ver o mal menor.