O sentimento religioso tem uma ética inata e tão profunda que — em todas as crenças — conflui sempre no amor e na solidariedade. Se for invocado para odiar e destruir, será sempre uma perversão ou um aberrante desvio de si próprio. Será falso, de falsidade total.
Tentando salvaguardar esses valores em meio à mixórdia entre os dois turnos da eleição presidencial, as Pastorais Sociais da Igreja Católica (reunidas nesta semana em Brasília) alertaram para "o movimento antidemocrático que apela ao ódio e à violência colocando o povo contra o povo e semeando o medo" para chegar ao poder pelo voto.
Sem citar nomes, os organismos católicos de fato criticam Jair Bolsonaro. "O candidato desse movimento — acrescentam — demoniza os opositores, classifica-os de 'comunistas' e 'bolivarianos', e se vale de eleições democráticas para dar legalidade à intolerância que pretende militarizar as instituições, garantir impunidade aos abusos, armar a população civil e reduzir programas sociais, além de discriminar as mulheres, negros e índios com insultos, racismo e xenofobia".
Firmado pela Cáritas e outros 14 organismos católicos (como a Conferência dos Religiosos, o Conselho de Laicos, a Pastoral da Terra e o Conselho Missionário Indigenista) além da Comissão Justiça de Paz, integrada também por luteranos, o documento acentua: "Respeitamos todos aqueles que tenham votado no 1. turno sem atentar para isso e com eles queremos dialogar francamente".
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Mas o diálogo como confronto de ideias, para que o eleitor decida com clareza, desapareceu agora. Mesmo liberado pelos médicos, Bolsonaro resolveu não participar dos debates pela TV.
Decidiremos no escuro, guiados pela propaganda mais exuberante, nunca pelo debate de ideias, experiências ou pelo passado dos candidatos. Suprimem-se as 2 horas reveladoras em que ele e Haddad se mostrariam de alto a baixo e nos levariam a comparar e decidir.
Vivemos o absurdo de que o 13 e o 17 nunca se confrontaram e são só números vazios. No único debate a que Bolsonaro compareceu (antes da facada), Haddad era ainda "vice" do presidiário Lula e ficou de fora. Logo, a facada evitou que o ex-capitão mostrasse quem é e explicasse porque deixou o Exército em 1988, após pretender "colocar bombas" para forçar aumento salarial.
Debater pela TV deveria ser obrigatório. Assim, as invencionices das "redes" não nos lambuzariam com mentira e ódio. E a eleição teria um tom religioso de sacralidade. Não de fuga.