A emoção da busca pelo novo e pelo inusitado nos tira do mundo real e nos faz construir mitos e deuses a partir das aparências e da propaganda. É o caso de tudo o que rodeia a prisão de Lula da Silva, tanto em quem o ataca quanto em quem o venera.
A repetição das aparências passa a ter mais força que as evidências. Lula é visto pelo que sua lábia fácil dizia ser, não pelo que foi ou é. Só ele pôde se gabar em público de que "nunca os bancos lucraram tanto quanto em meu governo" e, ao mesmo tempo, ser festejado pelo povão endividado nos escorchantes juros bancários.
Os militantes do PT gritavam contra a guinada conservadora do PSDB de Fernando Henrique, mas o governo do PT a expandiu e consolidou. Henrique Meirelles pulou do Boston Bank para o Banco Central. A Petrobras foi dividida como espólio entre o malufista PP, os corruptos do PT e o grupo hoje chamado pela Justiça de "quadrilhão do PMDB".
O crime prossegue, amplo, quase infinito
Temer, Calheiros, Jucá, Padilha, o "Gato Angorá" e outros mandões atuais já mandavam com Lula e Dilma.
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Que reformas sociais Lula propôs ou realizou?
O "men$alão" oficializou a perver$ão na política. O assistencialismo da "Bolsa Família" tornou "ricos" os pobres com R$ 70 por filho. As "cotas raciais" não aprofundaram o ensino e a universidade seguiu expedindo diplomas sem ser núcleo de pesquisa. Faculdades privadas passaram a grupos mercantis estrangeiros cotados na Bolsa de Valores.
Nunca o conservadorismo tacanho nos tinha dirigido com tanta folgança. Expandiu-se um capitalismo calcado no suborno e na propina, em concubinato com o poder público. O narcotráfico cresceu. O crime se agigantou. A política virou corrupção e o roubo, meta única. Com partidos transformados em amontoados de gente vã, surgiram paranoicos Hitler's tropicais.
Contraponto dessa difusa realidade, procuradores e juízes investigam e encarceram criminosos escondidos no poder político e econômico. Mas o crime prossegue, amplo, quase infinito.
O terrível na condenação de Lula é o caminho que o levou à prisão. A naturalidade de Palocci contando tudo do velho comparsa, ou o alerta de Marcelo Odebrecht ao advogado de Lula: "Quanto mais eu revelar, mais ele vai se complicar".
A confusão é tanta que líderes autênticos (como o socialista Felipe González, ex-chefe do governo espanhol e outros da esquerda europeia) foram convencidos de que Lula foi vítima de "um complô" de direita. A duplicidade construiu a ilusão de óptica?