Se há algo que reforça a crença na perenidade do ofício do crítico teatral é o lançamento, em livro, de uma coletânea de resenhas, como a que acaba de vir à luz pelas Edições Sesc São Paulo com textos de Jefferson Del Rios. O selo, que já havia editado volumes de escritos de Sábato Magaldi (Amor ao Teatro) e Macksen Luiz (Et Alii), agora coloca no mercado Teatro, Literatura, Pessoas, com críticas teatrais, artigos, entrevistas e perfis assinados por Jefferson.
O ofício do crítico é ingrato porque cabe a ele ou ela a tarefa de escrever no calor do momento – em geral, no máximo alguns dias depois da sessão – sobre um espetáculo que poderá ficar marcado na história de uma maneira bastante diferente daquela primeira impressão. São famigerados os casos de críticos míopes a grandes talentos à primeira vista. Daí por que se diz que, quando o crítico escreve, não é apenas o espetáculo que está sendo avaliado, mas também o autor do texto.
O crítico é aquele que, supõe-se, diz a verdade, que expõe à leitura de todos o que talvez não dissesse frente a frente com um ator ou um diretor para não perder a amizade. É, nos melhores casos, um corajoso.
Lidas com o benefício da distância temporal, como em uma coletânea de resenhas, as impressões da cena são, acima de tudo, valiosos documentos da história. Os livros salvam a maior parte dos leitores de mergulhar em arquivos empoeirados para resgatar recortes de críticas publicadas em jornais e revistas antigos – já os pesquisadores das artes cênicas não têm outra escolha.
Mas a crítica, como tudo, não é a mesma que se praticava em outros tempos, e não vai aí qualquer tipo de saudosismo. Os críticos de perfil acadêmico que hoje escrevem em sites especializados – a boa notícia é que há muitos: críticos e sites – não têm qualquer pretensão impressionista de julgar a performance de um ator ou iluminador como se fossem magistrados. Estão mais interessados em estabelecer um diálogo com a obra, frequentemente a partir de suas experiências pessoais – ainda mais quando a representatividade é uma questão cada vez mais sublinhada. Tampouco há o foco no texto teatral que ocupou resenhistas do passado. O que importa hoje é a cena em todos os seus elementos, muitas vezes borrando a fronteira entre teatro, dança e circo.
Essa é a teoria. Na prática, vários tipos de crítica coexistem, dependendo do autor e do meio em que se publica. A questão que fica é: para quem o crítico escreve hoje?