A morte de Barbara Heliodora, no último dia 10, marcou simbolicamente o fim de uma era na crítica teatral brasileira. Grande especialista em Shakespeare, sobre quem escreveu diversos livros e cujas peças traduziu na quase totalidade (nunca quis refazer a versão de Hamlet de sua mãe, a poeta Anna Amélia Carneiro de Mendonça), Barbara integrou uma geração de críticos rigorosos, na qual também estava Paulo Francis. Endureceram para fazer frente à era mais condescendente que os precedeu. Tiveram, assim, um papel fundamental na qualificação do teatro nacional, ajudando a formar espectadores bem informados e exigentes. Uma boa crítica é um elemento importante, e às vezes subestimado, na cena teatral.
Sua fama de temida era folclórica. Mas, cá entre nós, todos os críticos deveriam ser rigorosos como ela. Em uma entrevista para Zero Hora realizada em sua casa, no Rio, Barbara me disse que chegou a ter uma amizade "esfriada" por causa de uma crítica. Quantos estão dispostos a isso?
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Não quer dizer que devemos concordar com todas as suas posições. Ela desprezava, por exemplo, Qorpo-Santo, dramaturgo gaúcho que já dispõe de importante fortuna crítica. O fato é que a geração de Barbara foi sucedida por outra, menos preocupada com o que é certo e errado no palco e mais interessada em estabelecer relações e propor reflexões. São, em sua maioria, jornalistas egressos da mídia impressa que se expressam em sites independentes como Questão de Crítica, Teatrojornal, Horizonte da Cena e outros. Escrevem textos mais influenciados pela crítica acadêmica do que pela geração de Barbara. E estão aí, renovando a cena.
Coluna
Fábio Prikladnicki: a crítica e os críticos
O colunista escreve quinzenalmente no 2º Caderno
Fábio Prikladnicki
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