Assim que a pianista e a orquestra encerraram de forma arrebatadora o primeiro movimento do Concerto nº 2 de Rachmaninoff, o público irrompeu em efusivo aplauso, como se fosse gol da Seleção. Tudo muito bonito, embora fosse o momento errado de aplaudir. A música clássica tem dessas coisas: as músicas podem ter 40 minutos, com várias pausas entre os movimentos, mas só há um momento certo para bater palma: ao final de tudo.
O experiente e prevenido maestro Benjamin Zander bem que avisou, no início, sobre a questão dos aplausos, mas deve ter havido algum problema de comunicação. Talvez tenha sido a língua escolhida para o comunicado, o inglês. Mesmo assim, muitos podem não entender o conceito de "movimento", que em linguagem simples é cada uma das partes de uma composição erudita. Entre essas partes, os músicos costumam parar durante alguns segundos para respirar e se preparar para a continuação. Até mesmo um fã de música clássica pode se perder na contagem dos movimentos, pois às vezes não há pausa ou há uma pausa muito sutil.
Uma dica de ouro é sempre esperar os outros baterem palma antes — o que se seria, infelizmente, uma estratégia fracassada no concerto em questão, da Orquestra Filarmônica Jovem de Boston — ou, ainda melhor, esperar o maestro se virar de frente para o público para ter certeza de que a obra chegou mesmo ao fim. Etiquetas eruditas à parte, quem teria um coração tão frio a ponto de condenar o público por simplesmente aplaudir a orquestra e a pianista Anna Fedorova de forma tão espontânea e sincera? É uma controvérsia mesmo entre especialistas. De um lado, há o argumento de que o silêncio entre os movimentos é importante para a performance; de outro, o de que o excesso de protocolo intimida o público.
Antes de reger a Sinfonia nº 9 de Dovrák, depois do intervalo, o maestro Zander bem que tentou pedir mais uma vez, em inglês, para o público conter seus impulsos, mas tampouco adiantou. Ao final do primeiro movimento, outra ovação, desta vez interrompida pelos shhhhh dos espectadores iniciados, que balançavam a cabeça negativamente, inconsoláveis. Às vezes, o espetáculo é tão bonito que pode parecer uma tremenda falta de educação não aplaudir. Tem outra coisa: o ambiente informal do Auditório Araújo Vianna parecia convidativo o suficiente para essas liberdades, e era possível olhar com alguma simpatia para quem sacava o celular para gravar um trecho de recordação. Até mesmo o carismático maestro parece ter se rendido no final, elogiando o calor do público em agradecimento — ou pura resignação.