Não espere de Benjamin Zander lamúrias pela propalada crise das orquestras e gravadoras especializadas. Em sua palestra de 2008 no TED, intitulada O Poder Transformador da Música Clássica, o maestro inglês — hoje com 80 anos — defendeu que a agonia do mundo erudito é uma questão de perspectiva: para ele, o público ainda não viu nada do que esse gênero tem a oferecer e, por isso, há um campo vasto a ser explorado.
Prova dessa crença é que ele criou duas orquestras: a Filarmônica de Boston, em 1979 (conterrânea da longeva Sinfônica de Boston, fundada em 1881), formada por músicos profissionais, estudantes e amadores, e a Filarmônica Jovem de Boston, em 2012, com 120 integrantes entre 12 a 21 anos. É este conjunto com a energia da juventude no nome que chega a Porto Alegre pela primeira vez para um concerto no Auditório Araújo Vianna neste domingo (23), às 19h30min.
Quem tiver uma visão pré-concebida sobre uma orquestra jovem vai se surpreender com o exigente repertório escolhido para a turnê brasileira, regida por Zander: a abertura da ópera Os Mestres Cantores de Nuremberg, de Richard Wagner (1813-1883); a Sinfonia nº 9 (Do Novo Mundo), de Antonín Dvořák (1841-1904); e o Concerto para Piano nº 2, de Sergey Rachmaninoff (1873-1943), com a participação da pianista ucraniana Anna Fedorova. Uma interpretação dela para esta obra já alcançou quase 23 milhões de visualizações no YouTube desde 2013. Zander resume a ideia do programa com poucas palavras em entrevista concedida por e-mail a Zero Hora:
— Grandes obras normalmente ficam felizes juntas.
O maestro iniciou sua formação musical aos 12 anos com o célebre compositor Benjamin Britten (1913-1976) e com a compositora, musicista e professora Imogen Holst (1907-1984), filha de Gustav Holst (1874-1934). Violoncelista por formação, Zander teve aulas do instrumento durante cinco anos com o espanhol Gaspar Cassadó. Radicado em Boston desde 1965, onde iniciou a carreira de regente, preservou uma relação de 25 anos com a orquestra britânica Philharmonia, com a qual gravou 11 discos.
Gosto pela música clássica precisa de estímulo em casa
Para o maestro, jamais se deve considerar a Filarmônica de Boston como o "grupo principal" da Orquestra Jovem. O experiente Zander garante que trata ambas em pé de igualdade:
— Dispenso cada onça de energia, imaginação e amor que tenho em ambas. Acho que elas florescem igualmente. Apenas a orquestra jovem viaja, mas as gravações da Filarmônica de Boston estão no YouTube e especialmente no site bostonphil.org.
Recordando sua palestra no TED, que já teve mais de 11 milhões de visualizações, o maestro acredita que todos podem ser tocados pela música clássica, mas que o mundo não ficará subitamente repleto de fãs do gênero. Para abrir essa porta, é preciso orientação aos jovens da parte dos pais, professores, políticos e amigos.
— Acho que isso vale para muitas coisas. Que outras partes de sua vida estão fechadas porque você acha que não gosta ou não é talentoso? Vamos escancarar as portas para o jardim mágico! – convoca.
Com trajetória reconhecida aos 29 anos, a pianista Anna Fedorova compartilha o entusiasmo do maestro. Para ela, a Filarmônica Jovem de Boston é uma "oportunidade fantástica" para jovens músicos:
— Tenho certeza de que muitos de seus integrantes se tornarão profissionais e se juntarão às orquestras de ponta. Quanto a mim, é um grande prazer tocar com eles, que são tão vivos, responsivos e entusiasmados. E é um prazer dividir o palco com Benjamin Zander, que é um músico maravilhoso e sabe exatamente como despertar o verdadeiro amor à música nos jovens corações.
Sobre a obra de Rachmaninoff que tocará com a orquestra, Anna a considera um dos concertos para piano mais amados e populares do repertório por ser "incrivelmente lindo, muito bem balanceado e emocionalmente poderoso":
— Rachmaninoff o escreveu quando se recuperava de uma profunda depressão e de alguma forma é como um renascimento da alma. Há uma ampla gama de emoções nesse concerto, da treva mais profunda à maior felicidade, e ele toca diretamente nosso coração.
ORQUESTRA FILARMÔNICA JOVEM DE BOSTON
Domingo (23), às 19h30min. Classificação: livre.
Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 80 (plateia alta lateral), R$ 100 (plateia alta central), R$ 120 (plateia baixa lateral), R$ 150 (plateia baixa central) e R$ 250 (plateia gold).
Desconto de 50% para os cem primeiros sócios do Clube do Assinante (apenas para compra na bilheteria do Teatro do Bourbon Country) e 10% de desconto para os demais ingressos. À venda no site uhuu.com, na bilheteria do Bourbon Country e, no dia da apresentação, a partir das 16h, na bilheteria do Araújo Vianna.