Não há nada mais gostoso do que aquilo que é proibido. Na época da ditadura militar brasileira, livros de Marx circulavam clandestinamente entre ávidos leitores. Já na ditadura comunista na Romênia, filmes americanos eram vistos em sessões caseiras por meio de fitas VHS contrabandeadas, como mostra o documentário Chuck Norris vs. Communism (2015). É da natureza humana: se o governo ou um grupinho diz que você não deve ver isso ou aquilo, você vai morrer de curiosidade e vai querer descobrir o que há de tão subversivo. O que é proibido para uma geração será moeda corrente na geração seguinte. Hoje, felizmente, podemos ler Marx e ver filmes de Chuck Norris livremente. Também temos a opção de não fazer nada disso, mas aí está a beleza do negócio: você é quem decide.
Por isso, fico intrigado – e um pouco triste – quando vejo um grupo de conservadores querendo avacalhar a palestra da pensadora americana Judith Butler em São Paulo, agendada para a semana que vem, ou um confronto entre grupos progressistas e conservadores durante uma exibição do documentário O Jardim das Aflições, sobre o pensador brasileiro Olavo de Carvalho, como ocorreu em uma sessão na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) na semana passada. Os manifestantes dos dois polos ideológicos recorrem à mesma estratégia: atacar pessoalmente pessoas que pensam diferente. É o pior dos mundos, ou seja, a troca de ofensas nas redes sociais se materializando em ameaças e agressões físicas no mundo real. O problema começa quando você acredita que seu ponto de vista é o único que salvará o mundo e que as pessoas que pensam diferente são uma ameaça a ser eliminada.
Suponho que as polêmicas atrairão ainda mais leitores para Judith Butler e Olavo de Carvalho. Isso, claro, em um cenário otimista, no qual as pessoas estão dispostas a ler opiniões divergentes antes de emitir sentenças.