Minha formação acadêmica, como a de muitos por aí, sempre me blindou para qualquer coisa que pudesse ser vagamente chamada de autoajuda. Para o senso comum, essa categoria está associada a livros escritos por enganadores que desejam ganhar dinheiro fácil dizendo obviedades sobre felicidade, amor e sucesso. Diz a velha piada que a autoajuda é, na verdade, a ajuda financeira que estes autores dão a si mesmos. Outros preferem chamar de literatura de autoengano – o autoengano dos leitores, claro.
Agora, pense comigo: e se um livro de autoajuda realmente ajudar você? Não quero de forma alguma que as pessoas deixem de ler filosofia, literatura, história e outros gêneros que expandem o conhecimento e a capacidade de reflexão, mas há um tipo de sensibilidade que nem sempre se consegue com alta literatura e, às vezes, nem mesmo com terapia. Quantos intelectuais poderiam aprender a ser pessoas mais generosas? É apenas um exemplo, vale para todo mundo.
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É preciso, também, separar aquela autoajuda falcatrua da autoajuda que pode realmente acrescentar algo. Inteligência emocional, por exemplo, é uma ideia que gerou desconfiança em alguns meios intelectuais, mas se tornou uma área séria de pesquisa, além de uma habilidade valorizada no mercado de trabalho.
A meditação, que alguns consideravam uma prática mística obscura, ganhou respaldo científico e passou a ser difundida com o nome de mindfulness como forma de estimular o foco, a produtividade e, vá lá, a paz de espírito. Uma necessidade cada vez maior em um mundo com excesso de distrações.
Quem sabe assim você consiga finalmente voltar a ler Platão?