Depois de muito bate-boca público, o Radiohead realizou um histórico show em Israel na quarta-feira passada, em frente a 47 mil fãs que os aguardavam no Park HaYarkon, em Tel-Aviv. Com 27 músicas e dois bis, foi a mais longa apresentação da banda inglesa desde 2006, segundo a BBC.
Em um contexto no qual o debate vira sempre uma guerra entre mocinhos e bandidos, a performance foi, acima de tudo, um atestado de independência intelectual. Desde abril, o Radiohead vinha sofrendo forte pressão de artistas como Roger Waters, Ken Loach e Thurston Moore (do Sonic Youth) para cancelar a data dentro de um boicote a Israel pela causa palestina.
A resposta do vocalista Thom Yorke veio em entrevista à revista Rolling Stone em junho: "É profundamente desrespeitoso presumir que estamos desinformados ou que somos tão retardados que não conseguimos tomar uma decisão por conta própria". Para ele, o tipo de diálogo que o movimento de boicote está empreendendo é do tipo "preto ou branco".
Um tuíte de Ken Loach em julho comprovou a afirmação de Yorke. Escreveu o diretor de cinema: "O Radiohead precisa decidir se eles estão com o oprimido ou com o opressor. A escolha é simples". Yorke voltou a argumentar: "Tocar em um país não é o mesmo que apoiar seu governo". E exemplificou: "Não apoiamos Netanyahu (primeiro-ministro de Israel) mais do que Trump, mas ainda tocamos nos Estados Unidos".
Yorke tem razão. Você pode realizar o tipo de protesto pacífico que bem entender, mas não tente impor seu método aos outros à força. E, sobretudo, não tente desmoralizar publicamente o interlocutor apenas porque ele discorda de você. O movimento de boicote a Israel sufoca justamente as vozes críticas que podem fazer diferença: os artistas, os acadêmicos e os dissidentes em geral. Uma fã presente no show do Radiohead declarou à Israel National News: "Ninguém aqui nesta multidão votou em Binyamin Netanyahu. Eles estão tocando para as pessoas, não para o governo".