Em tempos de recessão econômica assombrando nosso horizonte, convém ter em conta um fenômeno que se passa aqui perto enquanto deitamos em berço esplêndido.
O lugar do mundo onde a renda nacional mais cresce é a Guiana, um pequeno país situado ao norte do Brasil. De cinco anos para cá, o território que se tornou independente da coroa britânica em 1966 conseguiu multiplicar por quatro o tamanho de sua economia. E, agora, a previsão é que seu Produto Interno Bruto (PIB) cresça espantosos 40% apenas em 2023. O milagre da nação de população inferior à de Porto Alegre se deve à descoberta que a ExxonMobil fez em 2015. A companhia encontrou vastas reservas de petróleo no mar da Guiana e, junto com uma petroleira chinesa, entre outros investidores, está apta a liderar a exploração de jazidas com potencial de alcançar, estima-se, 11 bilhões de barris. Se você leu o artigo da coluna anterior, já sabe que isso equivale ao pré-sal brasileiro e que a Petrobras deseja pesquisar a região da Margem Equatorial brasileira por supor, com fundadas razões técnicas, que do lado de cá existem jazidas igualmente exuberantes.
Para felicidade dos 760 mil habitantes da Guiana, não existe por lá alguém como Marina Silva e nem um Ibama a travar a marcha da prosperidade em nome de uma coreografia de defesa ambiental. O governo de Georgetown acelera planos para utilizar a dinheirama dos royalties do petróleo em infraestrutura e educação de seu povo. Entre a primeira descoberta e o início da produção na Guiana, não se passaram nem cinco anos – velocidade de Fórmula-1. No Brasil do regime Lula-STF, não engatamos nem a primeira marcha porque ONGs internacionais e sua paralisante pregação ESG seguem ditando falácias que acorrentam o Brasil ao atraso.
Nem tudo é festa, contudo, para Irfaan Ali, o presidente da Guiana. O ditador Nicolás Maduro resolveu ressuscitar uma antiga disputa territorial que remonta a 1835, quando a Guiana era uma possessão do império britânico. Nos fóruns internacionais, a Venezuela não conseguiu legitimar sua pretensão de anexar a região de Essequibo, que equivale a dois terços do território da Guiana. Mas, agora, pressionado a realizar eleições livres em seu país e encarar nas urnas adversários políticos que nos últimos anos mandou encarcerar, Maduro joga seu jogo bruto de sempre. Elege uma guerra contra um alvo externo, clássico recurso de um tirano encurralado, e lança uma ameaça militar contra a pequena Guiana. Quer tomar para si Essequibo, precisamente o reduto das jazidas monumentais de petróleo. Em uma farsa política, convocou um plebiscito para o início de dezembro no qual perguntará ao povo se a Venezuela deve exercer seu “direito inalienável” à anexação do território da Guiana que não é rico apenas em petróleo, mas em minérios – como os russos, parceiros de Maduro, assim como chineses, já bem sabem.
A julgar pela mudez do noticiário, nada disso diz respeito ao Brasil. Nem serviços de inteligência, nem Forças Armadas, nem a academia, nem o Congresso e muito menos o governo de Lula, amigo de Maduro – ninguém trata da possível guerra na fronteira do Brasil, um cenário que pode envolver aliados de Maduro na Ásia, na Eurásia e, quem sabe, no Oriente Médio. Omissão de alto risco.