Quando Marta ganha o título de melhor jogadora de futebol do mundo, todos aplaudem. E olha que isso já aconteceu cinco vezes. Quando a seleção brasileira fatura medalha em Olimpíada, todo mundo acha bonito. E já foram duas pratas. No Rio, em 2016, nosso time arrastou multidões aos estádios, a medalha escapou e o choro das meninas foi emocionante. Essas cenas são normais nos poucos momentos de visibilidade do futebol feminino no Brasil.
Mas na maior parte do tempo, a realidade é dura e a modalidade não decola. Para tentar entender melhor os motivos da dificuldade, mergulhamos nos bastidores do campeonato gaúcho. O torneio, que tem a participação da dupla Gre-Nal, é um exemplo da falta de apoio para o esporte. Salário para as atletas, nem pensar. Sem dinheiro para pagar as despesas de viagem e arbitragem, os dirigentes do interior assumem múltiplas funções e fazem um trabalho heroico para manter o sonho vivo.
Em Candiota, por exemplo, o presidente também é técnico do sub-15, sub-17 e preparador físico do adulto. Em quase todas as equipes a situação é parecida. Rifas, galetos, vendas de trufas, vale tudo para levantar recursos e colocar o time em campo. Sem cobrança de ingresso, a venda de pastéis e bebida nos bares é a grande receita para pagar o trabalho dos árbitros.
As viagens são verdadeiras epopeias. Acompanhamos, dentro do ônibus da delegação, a incrível história do Ijuí. Para economizar, pediu para jogar duas partidas no mesmo dia. Aproveitou o mesmo deslocamento para enfrentar o Estrela e o Guarani, de Lajeado. Isso depois de viajar toda madrugada. Estivemos em seis cidades acompanhando sete partidas. O público médio foi de 100 pessoas, quase todos parentes ou amigos de quem estava em campo.
A constatação é clara: os dirigentes, técnicos e jogadoras disputam o campeonato com uma paixão absurda. Mas falta suporte. A dupla Gre-Nal está se estruturando aos poucos, e mesmo com toda sua grandeza, o maior salário do estado não passa de R$ 1,5 mil mensais. Este ano a CBF começou a ajudar com a organização do campeonato brasileiro, que tem um case de sucesso comandado por um gaúcho no Amazonas. Por tudo isso, chego a conclusão de que até agora nossos resultados são baseados na qualidade do material humano. Agora está na hora de apoio e estrutura.