Reza o ditado que política e religião não se discutem. A não ser, claro, quando ambas se entrecruzam e a mistura interfere nos rumos do Brasil. Como quem não quer nada, relembremos aqui de que forma isso já ocorreu e quais foram as consequências para a nação. Vejamos quem venceu e quem acabou na cruz – e não ressuscitou ao terceiro dia.
Os livros didáticos dos velhos tempos – tempos em que as escolas tomavam partido e os professores eram doutrinadores – ensinavam que o império havia caído em função de três questões (pronuncia-se “kestão” e não “kues-tão”, como dizem os néscios). Eram elas: 1) a questão servil (abjeto eufemismo para se referir à escravidão, sem jamais mencionar que o Brasil foi o país que recebeu o maior número de escravizados na história da humanidade, e um dos últimos a libertá-los); 2) a questão militar (sobre o confronto entre os quartéis e o imperador, sem jamais mencionar que tudo estava ligado a militares ressentidos e golpistas) e, por fim, tchan, tchan, tchaaamm; 3) a kuestão, ops, questão religiosa.
Trocando em miúdos, a questão religiosa foi a seguinte: em 3 de março de 1872, o padre Almeida Martins fez um sermão “em termos tirados da linguagem maçônica” para saudar a aprovação da Lei do Ventre Livre, proposta pelo Visconde do Rio Branco, grão-mestre da maçonaria. O bispo do Rio de Janeiro, Pedro Lacerda, não gostou e suspendeu o padre. Os bispos de Olinda e do Pará aprovaram a medida e puniram outros padres que eram maçons. Dom Pedro II interveio e, desafiado pelos bispos, mandou prendê-los e os condenou a quatro anos de trabalhos forçados. O caso chegou ao Vaticano e o papa Pio IX criticou duramente o imperador do Brasil. Dom Pedro II anistiou os bispos, mas os fiéis ficaram com a impressão de que o mandatário da nação era meio ateu e passaram a conspirar contra ele.
Essa semana, gente que anda por aí vestida de verde e amarelo entrou nas redes sociais do Vaticano para chamar o papa Francisco de “comunista”. Bom, se ele de fato fosse, saberia que a história sempre se repete – como farsa ou como tragédia. Assim, investiria contra os falsos messias e pessoas que tragicamente falam em nome de Deus, mas conspurcam igrejas, interrompem missas e desrespeitam até a santa padroeira do Brasil. Não sei se o Santo Padre vai condenar determinados bispos a trabalhos forçados, nem se mencionará a maçonaria. Mas estou crente que deveria. Amém.