Sempre fui avesso às redes sociais. Nunca quis tê-las – e, como pessoa física, de fato não as tenho. Ocorre que fui contratado para ter um canal no YouTube, com seus respectivos desdobramentos no Instagram, Facebook, Twitter e que tais. O motivo pelo qual não queria me relacionar com as ditas redes estava ligado à minha paixão futebolística: sou gremista ensandecido e não dou espaço para a ponderação nem ouvidos para os rivais, em especial na aldeia. Sem trégua e sem concessões – embora quem me conheça saiba o quanto de gozação faz parte do processo.
Supunha que existisse, mas achava remota, a possibilidade de meu radicalismo migrar para o campo da política. Sempre fui um cético – para não dizer um cínico – nessa área. Sou uma versão um pouco menos estereotipada do espanhol que desembarca numa ilha deserta, olha para os lados e vaticina: “Hay gobierno? Soy contra!”
Acontece que o Brasil polarizou-se, e as tais redes se alimentam de likes e dislikes (sim, polegares para baixo também monetizam). E assim, como eu já intuía, ali estavam elas à espreita, prontas para tirar o pior de mim. Conseguiram.
Sou radicalmente contra o governo de Jair Bolsonaro – que julgo conspurcar até o Exército brasileiro, cuja história estudei. Nisso não mudo e não mudarei. A questão é que mesmo jamais tendo sido petista, fui às redes fazer pronunciamentos positivamente delirantes contra o atual mandatário e seus apoiadores – e que soaram como defesa radical de seu antípoda.
Mas foi pior, pois não há categoria alguma, a não ser a do “discurso de ódio”, onde minhas falas possam ser enquadradas. E assim, coerentemente, o dito gabinete do ódio recolheu-as, editou-as, concentrou-as e... espalhou-as nas redes. Consegui o efeito oposto: em vez de tirar, devo ter multiplicado o voto em Bolsonaro. Como se não bastasse, deixei minha família e amigos estarrecidos e preocupados. Portanto, me arrependo – em especial da forma, embora o próprio conteúdo também mereça reparos...
Não se trata exatamente de um pedido de desculpas – até porque não foi nessas páginas que me manifestei. Mas com certeza é uma nota de pesar. Preciso medir – e pesar – melhor as palavras que vocifero, como meço e peso as que escrevo. Sou um escritor, não sou nem quero ser influencer. Muito menos, bad influencer. Mas ainda acho que a culpa é “das redes”, da política e do ódio. Lamento ter me misturado com os três. Errei.