O 7 de Setembro de 1822 foi um grito proferido no meio do nada, em São Paulo, com o príncipe Dom Pedro montado numa mula e se contorcendo em dores de barriga.
O 7 de Setembro de 1823 marcou o início da cruzada paulista para consagrar a data como o “verdadeiro” dia da Independência, realçando o papel de São Paulo na construção do Brasil e confrontando o protagonismo do Rio de Janeiro, até então dono da narrativa.
O 7 de Setembro de 1830 foi obscurecido pelo assassinato do jornalista Líbero Badaró, contumaz crítico de Dom Pedro, em 21 de novembro daquele ano, que resultou na abdicação do “imperador e defensor perpétuo do Brasil”, em 7 de abril do ano seguinte.
O 7 de Setembro caiu, então, numa espécie de limbo – mesmo entre os paulistas. E não se falava muito nisso, sendo que havia até quem propusesse trocar a data da “verdadeira independência” para o dia em que o Brasil havia “se livrado” de Dom Pedro.
O 7 de Setembro renasceu em 1872, no ano de seu cinquentenário. Mas o peculiar é que Pedro II não celebrou o próprio pai: preferiu saudar seu tutor, José Bonifácio – que em 1823 fora mandado para o exílio pelo próprio Pedro I. Pedro II inaugurou com pompa uma estátua do então aclamado Patriarca da Independência.
O 7 de Setembro foi quase riscado do calendário em 1890, após o golpe militar de 15 de novembro do ano anterior. E quando o Rocio Pequeno, no Rio de Janeiro, mudou de nome para Praça Tiradentes, a estátua equestre de Pedro I foi cercada por tapumes – e muita gente achava que ela deveria ser derrubada.
O 7 de Setembro de 1895 marcou o renascer definitivo da data magna, quando não só o Museu do Ipiranga abriu as portas como o quadro de Pedro Américo Independência ou Morte! (pronto, mas enrolado, havia sete anos) foi enfim exposto. Era a coroação final da narrativa paulista, consagrando em prosa e em tela o 7 de Setembro como dia da pátria.
O 7 de Setembro de 1922 foi uma apoteose, graças à exposição do centenário, que transformou o Rio de Janeiro em vitrine para apresentar um Brasil “moderno” ao mundo e ao restante do país. O projeto paulista já estava consumado – mas, paradoxalmente, a data virou nacional, com os festejos centrados no... Rio.
O 7 de Setembro de 1972 também foi bombástico, mesmo em plena ditadura. O “marco extraordinário, sesquicentenário da Independência” teve o retorno dos restos mortais de Dom Pedro I, teve civismo em pleno regime militar, teve até a minicopa.
O 7 de Setembro de 2021 foi constrangedor, com desfile de tanques fumarentos e ameaças golpistas. Já o 7 de Setembro de 2022, em pleno bicentenário, foi broxante, foi não? Até trouxeram uma relíquia macabra do outro lado do mar, mas faltou coração.