Sessões de autógrafos são sempre marcantes na vida de qualquer escritor – para seu gáudio e glória, ou para a galeria dos fracassos retumbantes. Já vivenciei os dois lados da moeda. Guardo recordações divertidas de ambos: dos louros da consagração e dos vitupérios do opróbrio. Prefiro os primeiros, mas nunca ignorei as atribulações do naufrágio.
Na Feira do Livro de Porto Alegre, por exemplo, já fui ao topo e ao poço. Em 1998, lancei A Viagem do Descobrimento e ganhei o troféu de “melhor sessão de autógrafos”. Não sei se os encarregados de fechar a praça concordaram: a sessão se iniciou às 19h e já passava das 23h (uma hora após o horário) e eu ainda rabiscava meu nome com letras cada vez mais desarranjadas. Foram mais de mil autógrafos. Em 2005, voltei à mesma praça, ao mesmo banco, ao mesmo jardim, tudo era igual, mas fiquei triste porque não tinha ninguém perto de mim. O primeiro – e um dos únicos – na fila era o síndico do meu prédio. Como eu estava com o condomínio atrasado, acho que ele foi lá me refrescar a memória.
Na Bienal do Livro também vivi casos diametralmente opostos. Em 1999, tive uma sessão com cordão de isolamento, três seguranças, cinco horas de duração e firmei mais de 2 mil garatujas. Ganhei uma boa grana, mas gastei-a toda com fisioterapia na mão. Em 2007, sabe quantas pessoas apareceram para dizer que amavam minha obra? Uma! E ela ainda levou um livro antigo. Eu ri, mas a turma da editora latiu para a coitada.
As sessões de autógrafos mais trepidantes e demenciais das quais já tomei parte vieram antes dessas aí e não se deveram ao meu prodigioso talento com as letras nem aos meus belos olhos azuis. Eu havia escrito a biografia dos Mamonas Assassinas. O Brasil ainda vivia a comoção de sua trágica morte e a presença “VIP” (e um tanto oportunista) da namorada-viúva do líder da banda contribuíram para o furor, em meio ao qual fui só uma peça no sucesso alheio – pegando uma carona na qual eu nem queria ter embarcado.
Minha primeira sessão de autógrafos na vida também foi de carona: em março de 1984 saiu pela primeira vez no Brasil o clássico On the Road, de Jack Kerouac, traduzido por mim. Alguém achou que eu deveria autografar a obra. Temendo uma derrapagem, minha zelosa mãe convocou um exército de peruas amigas dela e assim, de repente, ali estavam os maiores doidões da cidade junto a finíssimas senhoras da sociedade. Todos ganharam autógrafo psicografado: “Um abraço, Jack”.
Neste sábado, dia 6, às 17h30min, volto à Praça da Alfândega para autografar Dicionário da Independência. Convoco doidões, peruas e até fãs (dos Mamonas) para darmos a largada do bicentenário da independência. Espero não ter que ficar sozinho no mesmo banco com Dom Pedro, Dona Leopoldina e a marquesa. E menos ainda com o síndico.