Nunca a Feira do Livro me arrebatou tanto. Estive lá nas últimas 20 edições – não lembro de ter faltado nenhuma vez desde que fiz 18 anos –, mas, no domingo passado (31), quando ingressei naqueles corredores na Praça da Alfândega, havia um entusiasmo inédito se derramando sobre as bancas.
Não é difícil explicar. Testemunhar o retorno da Feira Livro é ver Porto Alegre recuperar sua identidade. É assistir à Capital reconquistando seus símbolos, resgatando sua vibração, pedindo passagem para mostrar que pode, sim, ser uma cidade afudê (achei apropriado, neste caso, usar uma expressão daqui).
A Feira do Livro inaugura uma série de reencontros que nos devolvem a esquecida experiência de viver nossa cidade. E não deixa de ser emblemático que isso ocorra justamente num evento cultural. A cultura, meu Deus, o que seria de nós sem a cultura nesses últimos 20 meses? E aqui me refiro não apenas aos livros, mas a filmes, séries, novelas, música.
Foram eles que nos transportaram para fora do confinamento. Foram eles que ampliaram os horizontes quando o universo ficou restrito, curto, limitado – não tínhamos relações sociais nem lugares para ir, mas tínhamos opções caseiras para variar os cenários de uma rotina achatada, pobre, chocha, vazia.
Ao mesmo tempo em que homenageia a importância da cultura, a Feira do Livro entrega a Porto Alegre uma sensação de reencontro com sua personalidade. Reconheci minha cidade ali. Senti orgulho de almoçar no Caminho dos Jacarandás – o charmoso conjunto de restaurantes instalado junto ao paredão da Caixa – e até me comovi ao estender o passeio para o Margs e o Farol Santander.
Antes de ir embora, passamos de novo por dentro da feira, e de lá saímos com livros do Sérgio da Costa Franco, da Eliane Brum, do Mário Corso e da Clara Corleone. O que mais eu quero agora? Natal na Redenção? Réveillon no Gasômetro? Carnaval na Orla? Bienal do Mercosul? Que venham com prudência, mas que venham os próximos reencontros.