Mas que afronta, que ofensa, que desplante! Como esse tal Twitter ousou apagar um tuíte postado por um fiel e contumaz tuiteiro que ainda por cima é chefe de nação? Como assim, apagar um tuíte? Aliás, você sabe o que quer dizer "tweet", né? Quer dizer pio, trinado, chilreio, pipilar; um piado, ou, digamos assim, uma piada. Mas, nesse caso particular, o pior é que a piada deletada havia sido postada pelo líder inconteste de um povo, por um presidente limpamente eleito. Pode isso, Arnaldo?
E o que me parece mais grave na arbitrariedade desse tal Twitter é que o pio sufocado era de alta relevância: baseado (e bota baseado nisso) nas pesquisas do "renomado cientista venezuelano Sirio Quintero" sobre a covid-19, o excelentíssimo presidente de fato da República Bolivariana da Venezuela, o admirável Nicolás Maduro, nem precisou extrapolar o limite dos 280 caracteres determinados pelo ditatorial aplicativo. E assim, disponibilizou, para quem quisesse ler, um antídoto comprovadamente eficaz contra o maldito vírus que ora nos assola: a infalível mistura de capim-santo, gengibre, sabugueiro, pimenta-do-reino, limão e mel. É tiro e queda, garantiu o líder supremo da Venezuela.
Mas, aliado aos mais vis e rasteiros interesses porco-capitalistas da indústria farmacêutica, o tal Twitter simplesmente a-pa-gou o piado de Maduro. Ao fazê-lo, censurou pela primeira vez na história o piu de um chefe de Estado.
Felizmente esse aplicativo autoritário e fascista não existia cento e um anos atrás quando a chamada gripe espanhola – também conhecida como "gripezinha" ou "resfriadinho" – deu as caras por aqui. Mas, ainda bem, já existiam jornais. E os jornais, cujas publicações não podem ser deletadas nem apagadas, logo estavam publicando receitas para curar a gripe que a ciência, na sua santa ignorância, dizia ser "incurável".
Minha fórmula favorita era tão eficiente que sobreviveu ao século: homens de visão (vários deles, médicos de ofício) recomendavam cachaça com limão. Um must, um clássico. Outra boa receita, agora em desuso, era uísque com gengibre. Mas nada se comparava, é claro, à "injeção de óleo cinzento", aplicada por um certo doutor Peruche. Com "40% de mercúrio purificado", matava o vírus na hora – pena que o paciente ia junto.
De todo modo, espero que, depois de ler esta coluna, o tal Twitter jamais ouse apagar piadas postadas por um presidente eleito, líder inconteste de um país. Nem as dele, nem as de sua família, a autodenominada "hole family". A não ser, é claro, que os piados se revelem tão fakes quanto o pio de Maduro.
Daí pode, Arnaldo.