E se Arthur Rimbaud (1854-1891) não tivesse sido tão assombrosamente belo – não ostentasse aqueles olhos ardentes e etéreos e os lábios cerrados feito enigma? E se Rimbaud não fosse a mais plena encarnação do enfant terrible, exibindo o prontuário de tantas e tais transgressões: fugas de casa incessantes; a disposição irrefreável de encharcar-se em absinto e haxixe, chafurdar na sarjeta, afrontar as regras e se deitar com os amantes só para ser o melhor entre os piores – o poeta maldito por excelência? E se, depois disso tudo, não tivesse Rimbaud desistido de ser Rimbaud tão pouco tempo depois de ter espetacularmente inventado Rimbaud? Se não tivesse calado a voz e partido de vez, carregando – junto às armas que traficava e ao ouro escondido nas vestes – tantas reticências, entrelaçadas na coroa de espinhos duma biografia repleta de perguntas sem respostas?
Escritor maldito
Poeta nascido há 164 anos passa bem, ao contrário do mundo
Decisão de Arthur Rimbaud de largar tudo e ir para o deserto faz com que "seus poemas ainda ecoem o tenebroso balbuciar de uma esfinge"
Eduardo Bueno