Jornalismo é informar, analisar, opinar, investigar, esclarecer, mostrar o que deu certo e o que não deu. E é também apontar caminhos para os problemas.
Em 2020, quando o mundo foi impactado pela pandemia da covid-19, escrevi neste espaço que, após superarmos a fase da perplexidade, era a hora de o jornalismo assumir uma de suas funções mais nobres: a de indicar possíveis soluções. Na ocasião, o país debatia duas visões aparentemente antagônicas: a necessidade de manter o distanciamento social, e com isso impedir o aumento drástico dos casos de infectados, e a necessidade de retomada das atividades econômicas.
Na época, em meio a esse dilema, os veículos da RBS entenderam que a melhor resposta a dar a quem nos lê, ouve e assiste era intensificar o que sempre esteve no DNA dos nossos profissionais, o jornalismo de soluções.
Retornando a 2023. Em fevereiro deste ano, uma operação policial resgatou 207 trabalhadores em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves. Desde então, a Redação Integrada de ZH, GZH, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho não apenas relatou os desdobramentos como também entrevistou especialistas, autoridades, empresários e entidades de trabalhadores para entender por onde passa a solução do problema.
O que ocorreu nas vinícolas de Bento já havia sido registrado em outros segmentos em anos anteriores. E o que foi feito desde então? A partir dessa indagação surgiu a reportagem que ilustra a capa desta edição. De autoria do repórter Carlos Rollsing, com imagens de Mateus Bruxel, o conteúdo mostra como os produtores de maçã superaram problemas semelhantes e viraram referência na contratação de mão de obra sazonal no Rio Grande do Sul, em especial na região dos Campos de Cima da Serra.
O editor Leandro Fontoura sintetiza a importância de o jornalismo cada vez mais focar as soluções dos problemas:
– Por muitas décadas, o jornalismo priorizou mostrar os problemas para a sociedade e o poder público, e fez isso muito bem, cumprindo um papel de cão de guarda da comunidade, como costumamos dizer. A questão é que esse papel ficou pequeno ao longo dos anos, e o jornalismo entendeu que poderia fazer mais. A ideia do jornalismo de soluções é justamente deixar o papel de “triângulo de trânsito” para se tornar ator ativo na busca de saídas para as adversidades constatadas pela velha apuração de repórter. Seguimos apontando problemas, mas também nos esforçamos para trazer alternativas que possam ajudar a consertá-los.
A reportagem sobre o exemplo da colheita da maçã está nas páginas 20 a 23. Os conteúdos sobre Jornalismo de Soluções podem ser acessados em GZH.