O repórter exerce a função mais nobre do jornalismo, pois é ele quem está na linha de frente apurando a notícia, fazendo entrevistas, investigando. Costuma ser uma testemunha ocular de fatos que, muitas vezes, entrarão para a História. Mas nem sempre a reportagem tem seus encantos. Na terça-feira, quando chegaram as primeiras informações da tragédia ocorrida no Centro de Educação Pró-Infância Aquarela, em Saudades (SC), tomamos a decisão na Redação Integrada de deslocar para lá os repórteres Vitor Rosa e Jeniffer Gularte e o fotógrafo André Ávila. Três profissionais, embora jovens, acostumados a fazer coberturas que envolvam violência.
Esse é o tipo de reportagem que se torna desafiador para qualquer jornalista, tenha ele cinco ou 40 anos de profissão. Estão lá acompanhando os desdobramentos de uma chacina por dever profissional, não por vontade. A forma de olhar, de entrevistar, de relatar é diferente.
Abaixo, compartilho os depoimentos de André, Vitor e Jeniffer sobre os aprendizados desse triste episódio.
André Ávila, 35 anos: “A chacina de Saudades foi a pauta mais difícil que já fotografei. Cobri outras tragédias, como Brumadinho, mas, quando envolve crianças, é muito mais sensível e dolorido. Fotografar a dor de uma comunidade inteira exige toda a empatia e respeito possíveis. Ninguém sai de uma cobertura dessas da mesma maneira que entrou”.
Vitor Rosa, 26 anos: “A minha maior preocupação em Saudades foi informar sem aumentar a dor das famílias que já estavam sofrendo pelo crime. Ter cuidado na hora de questionar, calcular as palavras ao abordar, não insistir e tratar todos com o máximo de cuidado que o momento exige. Em coberturas como esta, acredito que precisamos transmitir a dimensão da tragédia, cuidando para não explorá-la além do necessário. Estar em Saudades me permitiu ver que os pais da cidade passaram a zelar por seus filhos com ainda mais atenção. Observar que o comércio fechou em sinal de respeito e afeto, espalhando laços pretos nas maçanetas das lojas. E, acima de tudo, entender que a dor e o luto se manifestam de forma coletiva entre os moradores da unida Saudades”.
Jeniffer Gularte, 30 anos: “Assim que chegaram as primeiras informações do ataque, liguei para o prefeito de Saudades e ele mal conseguia falar ao telefone. Estava muito consternado. Fiquei sem saber como seguir a conversa quando ele disse a idade das vítimas. Foi aí que percebi o quão imprescindível era irmos até lá. Em Saudades, conseguimos contar como a cidade está lidando com a dor dessa tragédia e o impacto de um crime como esse em uma comunidade que se orgulha de poder dormir com a porta de casa apenas encostada. Foi uma das coberturas mais complexas de que já participei. Tentamos mostrar a dor de todos eles, mas com o cuidado de não invadir o espaço das famílias das vítimas.