No Sala de Redação, revelei minha pulga atrás da orelha. Se Abel Braga não queria ficar no Inter até fevereiro, já tinha conversado com o presidente eleito Alessandro Barcellos, e, portanto, já sabia da preferência deste pelo espanhol Miguel Angel Ramírez, por que raios adiou sua decisão após a vitória para o Bahia? Simples.
Abel recebeu garantias da direção eleita de que até o fim do contrato emergencial assinado com o Inter manda ele e mais ninguém. Depois, que venha Ramírez. O experiente treinador de 68 anos percebeu no Inter uma chance de mostrar que sua carreira não acabou, como dizem. Vitórias e boas atuações quando livrou-se da covid-19 e teve algum tempo de trabalhar no campo indicam que ainda tem lenha para queimar.
Sustentei, no Sala, que seria um gesto de grandeza padrão estátua ou placa de agradecimento um campeão mundial finalizar o Brasileirão mesmo sabendo que será preterido em fevereiro por uma jovem aposta, colocando o clube acima das vaidades.
Abel é mesmo um grande cara. Sua relação com o Inter é sincera. Pelo que apurei, seu desprendimento foi comovedor. Um exemplo para os que brigam por nada internamente, sempre colocando a disputa de poder acima dos interesses da instituição.
O presidente Alessandro Barcellos e o vice de futebol João Patrício Herrmann mostraram habilidade para sair do constrangimento de ter Abel instalado no G-4 e, ao mesmo tempo, o projeto de longo prazo alinhavado com Miguel Angel Ramírez.
Era a melhor solução, sem dúvida, mas parecia impossível levá-la a cabo sem produzir mágoa em um personagem tão forte na história colorada como é Abel. Se a dupla de dirigentes conseguir espraiar esta capacidade de diálogo para pacificar o clube, sem desistir da solução negociada diante do primeiro obstáculo, a esperança voltará ao Beira-Rio.