Ao atingir uma receita operacional bruta recorde no futebol brasileiro, da ordem de R$ 950 milhões (R$ 899 milhões gerados pelo futebol), o Flamengo conseguiu o que parecia impossível. Fez um time barato, foi campeão brasileiro e da Libertadores, e ainda lucrou R$ 63 milhões. Barato? Maluquice?
Não de acordo com o balanço financeiro rubro-negro. Os R$ 250 milhões gastos na montagem do elenco de Jorge Jesus fazem cócegas se analisarmos receita e despesa. As transferências equilibram a balança.
O Flamengo embolsou cerca de R$ 300 milhões com saídas de Lucas Paquetá, Jean Lucas, Leo Duarte e outros menos votados, para além de Vinícius Júnior, que saiu no exercício anterior, mas cujos milhões de euros pagos pelo Real Madrid cimentaram este processo todo. Este superávit é o que fez o Flamengo pensar até em não cortar salários durante a pandemia.
Alto lá
Desistiu porque não se rasga dinheiro impunemente. E também porque soaria arrogante quando até poderosos como Barcelona e PSG firmaram acordos com seus jogadores, alguns bem salgados, de até 70%. Mas que fique claro: não acredito nessa história de hegemonia pelos próximos 10 anos. Se acontecer, será uma exceção.
Já vi esse filme fracassar com o São Paulo moderno, cujo marketing tinha parceria com a Warner Bros e práticas de gestão atualizadas por um grupo de milionários que planejava o clube. Aí o Inter foi lá e papou Libertadores e Mundial. Depois, o Corinthians.
Com título Mundial e estádio novo em Itaquera, o Corinthians redescoberto por Ronaldo Fenômeno seria o Boca Juniors do continente. Hoje, atrasa salários, empurra com a barriga uma dívida de meio bilhão com o BNDES e não ganha de ninguém nem no Paulistão. Mas nada se compara ao Palmeiras.
Você lembra da badalação? Com meia dúzia de rodadas do Brasileirão, quem duvidasse do título antecipado do Palmeiras era internado. Ninguém lembrava a última derrota com Felipão, mas ele foi pedalado pelo Inter, na Copa do Brasil. E pelo Grêmio, na Libertadores, fechando 2019 como um Ituano.
O Flamengo parece ainda melhor em 2020, eu sei, por estar mais entrosado. Essa teses antiga de roupa nova, a de espanholização do futebol brasileiro versão 43, prevendo um cenário só de Real Madrid e Barcelona contra o resto, fica sempre só na teoria, demolida por brigas políticas que aniquilam as boas gestões dos clubes.