Do comovente e corajoso desabafo do Márcio Chagas ao site UOL sobre o racismo vivido por ele nos estádios gaúchos quando era árbitro, e ainda agora, na condição de comentarista da RBS TV, passando por episódios de sua infância e adolescência, fui testemunha ocular de alguns bem recentes.
Isso sem falar no episódio de 2014, quando o seu carro foi vandalizado na Montanha dos Vinhedos, estádio do Esportivo, após uma partida. Ele ainda era árbitro. Chegou e se deparou com bananas no capô e no escapamento.
Nas redes sociais e por mensagens, então, é assustador. Para quem qualifica de "exagero" o caráter desumano que são os atos racistas ou de injúria racial, sugiro leitura atenta do que diz o Márcio, pela riqueza de detalhes, conteúdo e contextualização. É uma reflexão que envolve a todos nós.
Muitos de nós, brancos, somos instados a achar chato insistir no debate sobre racismo. É a tendência cultural de transferir a culpa para a vítima.
A pergunta a ser feita é: chato para quem?
Os que passam por humilhações e ofensas não veem nada de chato em expor barbaridades e exigir punição previstas em lei. Talvez sintam decepção pela falta de solidariedade embutida nessa lógica.
O racismo só começará a ser banido quanto todos nós sentirmos revolta e ânsia de vômito ao conviver com algo tão podre, e não só quem é vítima.
O mero incômodo branco é perversamente conveniente.