Minha mãe, Dona Diva, é uma mãe zelosa. Está eternamente atenta às necessidades e à formação dos filhos. São mães assim que sempre dizem para que as crianças façam “o certo”.
Claro que “o certo” é subjetivo. Depende da argumentação. Ou, em grande escala, da filosofia adotada. É por isso que o certo vai mudando. O que é certo hoje não era anteontem. Quais dos certos, o atual ou o antigo, é realmente “certo”? Isso só a perspectiva histórica nos dirá.
Agora, quando os pais fazem isso, quando se dedicam a por na cabeça das crianças que elas devem fazer o certo, eles precisam apresentar a lógica completa. Ou seja: eles têm de explicar POR QUE as crianças devem fazer o certo. É preciso haver uma razão forte, porque, como dizia o Rei, tudo que é bom é ilegal, é imoral ou engorda. Tudo que é bom é ruim.
As religiões resolveram esse problema moral de forma simples e eficiente: a pessoa deve fazer o certo porque é o que Deus quer. Se ela não fizer o certo, Deus a punirá; se ela fizer, Deus a recompensará.
Outro argumento que os pais podem usar é o da Justiça humana, que, como Deus, castiga ou recompensa, dependendo do comportamento. Se a pessoa estiver dentro da lei, estará certa; se estiver fora, estará errada.
Os livros e gibis infantis, os filmes de super-heróis, todas as histórias que nos são contadas, quando somos pequenos, reforçam essa ideia de que o mundo é regido por um sistema justo em que os maus perdem e os bons ganham.
Essa ideia nos é inoculada na cabeça e com ela seguimos pela vida afora (ou vida adentro, sei lá). Temos, então, a certeza de que, no final, o Bem vencerá. Um dia, o mundo alcançará a perfeição e todo o Mal será banido das sociedades humanas.
“Quero ter olhos pra ver a maldade desaparecer”, cantava Clara Nunes, cheia de otimismo.
O problema é que, na prática, isso nem sempre acontece. O tempo todo você vê os bons se dando mal e os maus se dando bem. Pior: você não tem controle sobre as coisas da sua vida. Mesmo fazendo tudo certo, você corre riscos. De repente, você está enfrentando uma contingência que, de acordo com os ensinamentos dos seus pais, só os maus deveriam enfrentar.
Quer dizer: o mundo é injusto. Mas como pode ser injusto? Não deveria! O Bem não vencerá no final, afinal? Olhando para o que se desenha para as eleições de 2022, no Brasil, minha tendência é acreditar que não. Bolsonaro ou Lula? Eles de novo? Não pode ser. Não foi isso que me disseram, quando eu era guri. Vou me queixar para a mãe.