Nos anos 90, o dólar e o real valiam a mesma coisa. Era um por um. Que delícia. Foi a época em que mais viajei a turismo, na minha vida. Ia duas vezes por ano à Europa. Numa dessas, fiquei 15 dias entre a Inglaterra e a Escócia, bebendo pints e uísques. Voltei feliz, mas, quando cheguei ao jornal, senti que havia algo errado.
Eu era editor de esportes de Zero Hora. Naquele tempo, nossa equipe era bem grande, com mais de 20 profissionais. Eram, na sua maioria, talentosos, experientes e de absoluta confiança. Por isso, não foi difícil para mim perceber que o clima estava pesado. O que havia acontecido, enquanto eu estava fora?
Antes que fizesse essa pergunta aos meus colegas, eles vieram falar comigo. Contaram que um repórter, um que havia entrado fazia pouco tempo, estava causando problemas. Quase todos tinham queixas dele. Não vou revelar a natureza das queixas porque não acrescenta nada à história. Digo, apenas, que não tive dúvidas: em poucos dias, transferi o repórter para outro setor do jornal. O alívio foi imediato, na editoria. Todos voltaram a trabalhar com alegria e naturalidade.
É curioso como, às vezes, basta a ação de um único indivíduo para corroer até a destruição a harmonia de um grupo. Só que não é tão simples de identificar esses semeadores de cizânia e nem sempre o grupo se organiza para dizer o que sente.
Então, é preciso ter percepção fina para observar o ambiente, compreender que algo estranho se passa com o grupo, diagnosticar o mal e, por fim, solucioná-lo. Se o líder não fizer isso com velocidade e segurança, as relações acabam se deteriorando até que se torne impossível descobrir onde tudo de ruim começou.
Parece que essa é a situação do Grêmio. Porque não pode um clube saudável financeiramente, pagando em dia ótimos salários a jogadores de renome, não pode esse clube estar se repoltreando na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro.
Há defeitos no grupo do Grêmio? Claro que há. Mas que time não gostaria de ter Douglas Costa, Ferreira, Campaz, Villasanti, Rafinha, Kannemann, Vanderson e Brenno, além dos lesionados Borja e Geromel?
O que, então, está acontecendo de errado?
O mal deve estar alojado nas entranhas do vestiário. Romildo Bolzan, e mais nenhum outro, deveria examinar com critério esse território sacrossanto do clube até distinguir onde está alojado o tumor. Feito isso, deveria extraí-lo sem hesitação. Uma pequena e definitiva cirurgia. Rápido, rápido. Antes que seja tarde demais para salvar o paciente.