Quais são as coisas que realmente importam?
Vou contar sobre algo que realmente importa: a família do nosso planeta Terra.
Acontece que a Terra tinha uma irmã chamada Theia. Eram planetas gêmeos, que coexistiram pacificamente por milhões de anos, até que Theia começou a se aproximar demais. Aproximou-se tanto, a mana Theia, que acabou colidindo com a Terra, produzindo uma ruidosa explosão espacial.
Nessa pechada, quem levou a pior foi Theia, que se partiu em zilhões de fragmentos. Alguns penetraram fundo na carne da Terra e com ela se fundiram, aumentando-lhe o núcleo e o tamanho. Outros se reencontraram no espaço, aglutinaram-se também e formaram a nossa querida Lua, regente das marés e dos amores.
Repare como isso é bonito: a Lua é formada por pedaços da Terra e da sua irmã morta, Theia.
Com essa genealogia, é óbvio que a Lua ficaria por perto. E, realmente, ela se transformou em satélite da Terra. Por bilhões de anos (eu disse: BILHÕES), a Lua se manteve na vizinhança e por aí ainda está, tornando as madrugadas mais românticas e arrancando uivos de cães e lobos.
Porém... ah, porém... Não será assim para sempre. Vi num programa de televisão que os cientistas calcularam que a Lua está se afastando da Terra inexoravelmente, dia a dia, semana a semana, 3,8 centímetros por ano. Essa informação me deixou inquieto. Porque significa que a Lua está indo embora. Como um filho em busca da independência, ela simplesmente quer distância de nós.
Como viveremos sem a Lua? As noites serão mais escuras e certamente menos inspiradoras. Dizem que, na Lua Minguante, chamada de “Lua Negra”, as bruxas saem às ruas, entregam-se a seus rituais e preparam encantamentos. As bruxas ficarão desnorteadas, sem a Lua Minguante.
Mas a Lua que tem mais prestígio é, sem dúvida, a Cheia. Homens se transformam em lobisomens na Lua Cheia e os amantes ficam mais amorosos nessas noites iluminadas. Neil Young compôs uma música linda sobre a Lua Cheia. Chama-se “Harvest Moon”. Essa bela canção não terá mas sentido, depois que a Lua se for.
Pois é isso que realmente importa, amado leitor. As eleições de 2022, a cotação do dólar, a CPI da Covid, tudo isso é insignificante diante de um fato: a Lua está prestes a nos abandonar. Nem ela, pedra da nossa pedra, magma do nosso magma, nos aguenta mais. Como pudemos decepcionar de tal forma a nossa Lua?
Verdade que ela está sendo cuidadosa: seu distanciamento é paulatino, quase imperceptível. Só que, quando chegar a hora, ela não estará mais onde nos acostumamos a encontrá-la todas as noites. Esqueça o frio do inverno, tiritante leitor, esqueça os juros do cheque especial, esqueça Bolsonaro e Lula, esqueça as campanhas da dupla Gre-Nal. A Lua está partindo para bem longe e, com ela, levará um pedaço da nossa poesia.