As russas são mesmo bonitas. Merecem a fama que têm. São em geral esbeltas e longilíneas, às vezes morenas como Irina Shayk, que já elevei ao posto de “a mulher mais linda do mundo”, ou loiras como Maria Sharapova ou Ekaterina Dorohzko, a belíssima modelo que foi mulher do atacante Luiz Adriano e que, dia desses, enfureceu as furiosas redes sociais ao declarar que a mulher deve obediência eterna ao homem.
Não me surpreende esse tipo de declaração de Ekaterina. A Rússia ainda é um país muito fechado. Quando estive lá, na Copa do Mundo, isso me intrigava. Pensava: por que alguns países são mais permeáveis culturalmente do que outros? Pois, afinal, os russos sofrem as mesmas influências que os brasileiros – os produtos da internet, da TV, das comunicações em geral estão acessíveis à população. Mas, muitas vezes, os costumes deles parecem ser do remoto século passado.
Outra curiosidade é a diferença entre os russos e as russas. As russas, já disse, são delicadas, florais, solares. Os russos me lembravam aqueles zagueiros da colônia italiana do Rio Grande do Sul: robustos como ursos, de rosto vermelho e olhar hostil. Você tem a impressão de que eles vão entrar de sola a qualquer momento.
Claro, estou generalizando. Há 150 milhões de russos no mundo, você irá encontrar de um tudo, se procurar. Mas é impossível falar do que é geral sem generalizar.
Seja como for, admiro a civilização russa. Trata-se de um povo que padeceu imensamente, em toda a sua história, mas que alcançou grandes façanhas.
Imagine que, até 1861, vigia na Rússia o sistema de servidão. Na prática, quase como a escravidão dos africanos que vigorava no Brasil e nos Estados Unidos. O que os diferenciava é que os servos não eram considerados objetos semoventes; eles eram pessoas. Até porque pertenciam aos mesmos ramais étnicos dos nobres e professavam a mesma religião.
O imperador Alexandre II aboliu a servidão antes até de Lincoln ter libertado os escravos nos Estados Unidos, mas a vida continuou dura para os pobres russos. Tanto que os movimentos revolucionários se proliferaram pelo país, e células terroristas juraram assassinar o czar. Esse pedaço da história russa é espantoso, porque houve VÁRIOS atentados contra o czar. Vários! Os atacantes falhavam, e os russos, em comemoração, erguiam uma igreja. Até que, um dia, os terroristas conseguiram. Atiraram uma bomba na carruagem do imperador. Que saiu ileso, porque a carruagem, presente do francês Napoleão III, era blindada. Só que ele foi ver o local da explosão, e aí um segundo revolucionário jogou outra bomba, que o atingiu. As pernas de Alexandre II foram despedaçadas e ele morreu logo depois. No local do assassinato, sabe o que os russos fizeram? Uma igreja. Maravilhosa, chamada Catedral do Sangue Derramado. Fica em São Petersburgo, e eu a visitei pelo menos três vezes durante a Copa.
O assassinato do czar foi um retrocesso para o povo russo. Ele era um liberal e estava prestes a anunciar planos democráticos e modernizantes. Seu filho e sucessor, Alexandre III, cancelou esses planos e recrudesceu a repressão. Se Alexandre II tivesse levado adiante suas boas intenções, a Rússia talvez se transformasse numa monarquia constitucional, como a Inglaterra, e não teria ocorrido a Revolução Bolchevique e a História do Mundo seria outra. Mas isso é falar em “se”, no condicional, o que, em História, só serve para elucubrações.
O fato é que, apesar de nunca terem experimentado plenas liberdades democráticas, os russos atingiram feitos extraordinários. A densa, vigorosa, poderosa literatura russa o demonstra. Além disso, eles promoveram o primeiro voo espacial tripulado da Humanidade e inventaram o estrogonofe. E, agora, virão em nosso socorro com a vacina contra a covid. Sempre acreditei nos russos, sei que eles não nos decepcionarão. Em nome de Dostoievsky, Yuri Gagarin e Yelena Isinbayeva, saudemos os russos, que eles estão chegando!