Volta e meia é preciso relembrar a Confraria da Caveira Preta. Era uma reunião de velhos lobos da imprensa que fazíamos. O mentor era o Emanuel Mattos. O Patrono, Evaldo Gonçalves.
O encontro mais importante ocorria em dezembro. Às vésperas do Natal, jantávamos em algum restaurante tradicional de Porto Alegre e fazíamos listas de quais seriam os mortos ilustres do ano seguinte. Cada um elaborava a sua relação de mortos regionais, nacionais e internacionais, às vezes tecendo um arrazoado acerca de determinado nome mais polêmico. As listas, em seguida, eram repassadas para o patrono, que com elas ficava até o próximo dezembro, quando eram lidas na abertura de um de nossos convescotes. Aquele que acertasse mais mortos não pagava o jantar.
Como o Sant’Ana sempre era dos mais votados e, teimosamente, nunca morria, incorporou-se à confraria. Outros participantes eram o Wianey Carlet, o Nico Noronha, o Flávio Dutra, o Luiz Zini Pires, o Jones Lopes da Silva, o Chimba, o Élvio Santos e alguns convidados especiais, como o Mário Marcos e o Boró, só que o Boró nunca ia.
Claro que a Confraria era uma grande brincadeira, quase que só dizíamos bobagem nesses jantares, mas, num deles, o Emanuel chamou a mim e ao Nico de lado e perguntou: “Por que vocês não escrevem o livro definitivo sobre a história dos Grenais?”
Eu e o Nico nos entreolhamos. Aí estava uma boa ideia. E não é que decidimos executá-la? Faz quase 30 anos, isso, estávamos no começo da década de 90. Passamos um ano inteiro dedicados ao livro, só eu entrevistei mais de 100 personagens do clássico e li bem um milheiro de antigos jornais e documentos. Quando terminamos, deu certo orgulho. Havíamos feito alguma coisa importante ali.
Pois bem. Quero dizer com essa história que conheço o clássico Gre-Nal. Sei como suas engrenagens funcionam. E, acavalado nesse conhecimento, dou aqui meu palpite a respeito do Gre-Nal de sábado: o Grêmio vai amassar o Inter. Essa é a tendência.
Sei bem que os detratores, que são muitos e furiosos, alegarão: “Tu disseste que o Inter ia amassar o Grêmio da última vez, e não foi o que aconteceu!”
Não foi.
Verdade.
Mas, entre aquela crônica e o Gre-Nal, houve jogo do Grêmio, houve jogo do Inter, e as coisas mudaram. O Grêmio melhorou, o Inter piorou, e, assim, escrevi que as transformações operadas por Renato estavam fazendo diferença. Como fizeram.
Uma previsão, quando você a faz, é como uma pesquisa eleitoral: é o retrato do momento. Neste momento, enquanto escrevo febrilmente para meus ansiosos leitores, o Grêmio está melhor. Tem, a seu favor, a confiança e as individualidades. E o Inter tem, contra si, a insegurança e a instabilidade.
O quadro pode mudar até sábado à tarde?
Pode.
Talvez Coudet leve essa crônica para o vestiário colorado e os jogadores do Inter, tomados de brios, se mobilizem a tal ponto que se tornem invencíveis. Talvez. Quem sabe? Mas, por ora, o Grêmio é superior. Eu digo que é. Porque sei.