Instado por dezenas de recomendações entusiasmadas (“Tu tens que ver! Tu tens que ver!”), assisti a O Dilema das Redes.
Fiquei decepcionado com o tom conspiratório do filme. E com sua aparente ingenuidade: alguém não sabia que as redes sociais se esforçam para conquistar o maior pedaço da atenção de seus usuários? Alguém não sabia que elas vivem disso?
O que as redes sociais fazem com bom sucesso sempre foi o sonho de todos os empresários, de todos os comerciantes, de todos os políticos, de todos os pregadores: elas ganharam a fidelidade do seu público. Que empresário não gostaria de ver o seu produto transformado numa espécie de febre de consumo interplanetário? Que líder não gostaria de guiar manadas de povo como se fossem rebanho?
No meio do filme, há uma cena teatralizada: uma mãe chega à conclusão de que o uso dos celulares está prejudicando a convivência da família e toma uma medida drástica. Durante as refeições, ela tranca os celulares de todos em um pote de vidro que tem uma tampa controlada por cronômetro: a tampa só se abre depois que é transcorrido determinado tempo. Já no começo do jantar, uma das filhas se impacienta com a restrição, apanha um martelo e quebra o vidro do pote para retomar o celular. Com ele nas mãos, marcha para o quarto, em silêncio.
É evidente que o filme pretende demonstrar, com isso, o nível de dependência da menina. Na verdade, mostrou o nível de educação que seus pais lhe dão. Meu filho estava assistindo ao filme comigo e, ao ver a cena, virou-se para mim, riu e perguntou:
“O que tu farias, se eu fizesse isso, hein, papai?”.
Sorri de volta e nem precisei responder. Era uma pergunta retórica. Ele sabe o que eu faria.
Aí é que está: o fato de as pessoas se viciarem nas redes sociais demonstra menos a força das redes sociais e mais a fraqueza das pessoas. O homem gosta de ser manipulado, gosta de ser mandado, gosta de ter um guia. Isso lhe dá uma agradável sensação de pertencimento. Ele é membro de uma comunidade, ele tem em quem se apoiar.
Pensar por si mesmo, tirar suas próprias conclusões, analisar os fatos de forma isenta, sem dogmas e sem crenças, é algo muito, muito solitário.
“Livre pensar é só pensar”, brincava Millôr Fernandes, fazendo um jogo de palavras com a figura do livre-pensador. Exatamente: o livre-pensador pensa, os outros seguem os instintos de rebanho do animal humano.
Mas, precisamente por ser livre, o livre-pensador é só.
O pressuposto da liberdade é a solidão. Quanto maior liberdade o homem tem, mais sozinho ele está. Por isso, as pessoas se deixam conduzir. Por isso, elas querem ser cativas. Por isso, elas querem seguir um líder, uma ideologia, um partido, uma fé, uma causa. Por isso elas se deixam viciar e hipnotizar.
Fora das redes sociais, há livre pensar. Há liberdade. Mas também há solidão.