Em artigo publicado no Washington Post, a diretora francesa Maïmouna Doucouré, responsável por Mignonnes, falou sobre o filme e a polêmica que o cerca. A cineasta contou que a obra foi resultado de um ano e meio de entrevistas com garotas de 10 a 11 anos de idade, que tinham como objetivo iniciar uma conversa sobre a sexualização das crianças com a trama desenvolvida.
De acordo com a diretora, a ideia de fazer as entrevistas veio após um evento comunitário em Paris. Doucouré relatou que estava no local quando um grupo de meninas entrou no palco vestidas e dançando de forma sensual.
"As histórias que as garotas com quem conversei compartilharam comigo eram notavelmente semelhantes. Elas viram que quanto mais sexy uma mulher é no Instagram ou TikTok, mais curtidas ela consegue. Elas tentaram imitar essa sexualidade na crença de que isso as tornaria mais populares (...) O problema, claro, é que não são mulheres e não percebem o que estão fazendo. Elas constroem sua autoestima com base nas curtidas nas redes sociais e no número de seguidores que possuem", disse.
A diretora ressaltou que não há nudez de crianças em Mignonnes. O único momento em que aparece uma pessoa nua é quando as protagonistas assistem a um filme no celular, que mostra os seios de uma atriz maior de idade. Disse, ainda, que o projeto foi aprovado pelas autoridades de proteção à criança do governo francês.
"Eu queria abrir os olhos das pessoas para o que realmente está acontecendo nas escolas e nas redes sociais, forçando-as a confrontar imagens de meninas maquiadas, vestidas e dançando sugestivamente para imitar seu ícone pop favorito. Eu queria que os adultos passassem 96 minutos vendo o mundo pelos olhos de uma menina de 11 anos, que vive 24 horas por dia. Essas cenas podem ser difíceis de assistir, mas não são menos verdadeiras como resultado", defendeu.
Maïmouna também contou que Mignonnes relaciona-se com sua própria história de vida. De origem senegalesa e radicada em Paris, a diretora — assim como a personagem Amy — teve de se equilibrar em meio ao choque de culturas que vivenciou quando era jovem.
"Durante toda a minha vida, fiz malabarismos com duas culturas: a senegalesa e a francesa. Como resultado, as pessoas frequentemente me perguntam sobre a opressão das mulheres nas sociedades mais tradicionais. E sempre pergunto: mas a objetificação dos corpos das mulheres na Europa Ocidental e nos Estados Unidos não é outro tipo de opressão?", apontou.