A verdade é que acontecem muitas coisas no mundo, e não consigo acompanhar todas. São tantas novidades se sucedendo... De repente, as pessoas estão falando de um assunto que desconheço. Elas já estão com opinião formada, às vezes estão indignadas, às vezes estão achando a maior graça, e eu boiando.
Custei a entender o que era “o pai tá on”, “juliette separada”, “cabelo moicano” e “caixa carregando”. Felizmente, existe o Google, que tudo sabe. Descobri que esses termos são criações de Neymar. Quatro novas expressões em dois dias. É como se ele fosse um Shakespeare, que inventou duas mil palavras da língua inglesa no século 17. Estremeço só de pensar na possibilidade de que, daqui a 400 anos, Neymar seja citado como referência intelectual do nosso tempo.
Nos anos 60, Caetano Veloso se perguntou, olhando para o colorido das bancas de revista no Rio: “Quem lê tanta notícia?” O que ele se perguntará hoje? As redes sociais e os sites pulsam e fremem. A TV explode em imagens espetaculares. O rádio grita. Eles precisam da minha atenção. Não tenho tanta atenção para dar, mas acredite, Caetano, tem gente que lê, sim, tanta notícia.
Agora mesmo alguém está falando algo importante no Twitter. Se eu não acessar o celular de 20 em 20 minutos, ficarei desinformado, serei deixado para trás, atirado na sarjeta suja do conhecimento contemporâneo.
Tenho aqui, comigo, livros. Milhares deles. Se dedico duas horas de leitura a um, avanço algumas dezenas de páginas, mas não consigo terminá-lo. Enquanto isso, as pessoas já me enviaram uma dúzia de vídeos nos grupos de WhatsApp, além das montagens de fotos e o que cronistas antigos chamariam de ditos chistosos. Como as pessoas fazem ditos chistosos nos grupos de WhatsApp. Elas são muito espirituosas.
Outra frustração que me amassa é não conhecer as pessoas famosas de hoje. Tem gente aí com milhões de seguidores nas redes e não faço ideia de quem seja. Pior: os meus famosos estão ultrapassados. Ninguém mais dá bola para eles. Por exemplo, tem um famoso que me é caro: o Chico Buarque. Guardo todos os discos do Chico, sei de cor as músicas dele, até joguei bola com ele, uma vez. O Chico, para mim, sempre foi um dos maiores artistas do Brasil. Mas sabe o que a maioria dos brasileiros sabe hoje sobre o Chico? Que ele é petista.
Que importa em quem o Chico vota, tendo ele composto Anos Dourados? Ah, mas para eles é isso que importa. Eles nunca ouviram Anos Dourados. O que eles ouvem? Não sei. Aqui onde vivo, no passado remoto, não tocam Luan Santana, Eduardo Costa e Marília Mendonça. Aqui ainda está rolando um Supertramp. Me deixem aqui, tirando a poeira dos discos, bebendo Grapete. Depois me contem qual é a última do Neymar.