No alto do Horeb, em meio ao fogo sagrado que ardia e não queimava, Moisés deve ter contraído todos os músculos de apreensão ao ouvir a voz trovejante de Jeová anunciar:
— Eu sou o Senhor teu Deus, um Deus ciumento. Castigo a culpa dos pais nos filhos até a terceira e a quarta geração dos que me odeiam, mas uso de misericórdia por mil gerações para com os que me amam!
E, em seguida, proferiu Seu segundo mandamento:
— Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão!
Alguém poderá relacionar a definição que o Senhor fez Dele mesmo, "eu sou um Deus ciumento", com o teor deste mandamento, de não citar Seu nome em vão. Mas não é isso. Ao contrário, trata-se de um mandamento de grande utilidade mundana e, lamentavelmente, pouco obedecido. Porque, pela poeira dos séculos, o nome de Deus tem sido usado de forma vã e vil como justificativa para um incontável número de maldades humanas.
Só depois do século 18, redimidos pelo iluminismo, os seres humanos começaram a fundamentar seus atos e pensamentos na própria inteligência. Ou, melhor dizendo, na ciência. Muitos, inclusive, acreditam que Deus e ciência se contrapõem e são excludentes. Ou é um, ou é outra. Já eu, aqui, penso como Einstein, que eles podem coexistir. E mais: que o segundo mandamento Dele deveria ser aplicado também a ela:
"Não pronunciarás o nome da ciência em vão!".
Pois é esse o pecado que mais tem sido cometido nestes tempos pandêmicos. A todo momento, ouço gente falar em nome da ciência. "Usamos a ciência para tomar essa decisão." "A ciência nos diz que temos de agir desta maneira." Como assim, "a ciência diz"? Pelo que conhecemos da ciência, ela demora bastante a dizer qualquer coisa. A ciência não é como Deus, que sabe tudo. Ela é cheia de dúvidas. Tem mais perguntas do que respostas. Ela precisa conhecer bem o assunto, antes de se manifestar. Precisa fazer experimentos, tentar e errar, tentar e errar, até acertar. E, mesmo assim, tenta de novo.
No caso do coronavírus, a ciência ainda não teve tempo para aprender sobre ele. Ela sabe que, lavando as mãos, não tocando no rosto e isoladas, as pessoas provavelmente não contrairão a doença. Além disso, não sabe muito mais. A imensa maioria do que tem sido propalado como conclusão da ciência não é conclusão da ciência; é o que acham alguns cientistas ou governantes. É opinião, não fato.
Por exemplo, um fato: a peste é mais forte em algumas regiões do que em outras. Foi mais forte no norte da Itália do que no sul. Foi mais forte em Nova York do que na Flórida. Por quê? A ciência ainda não chegou a uma conclusão, embora alguns cientistas possam dar opinião a respeito.
Então, se nos basearmos apenas neste fato, de que algumas regiões não são tão afetadas pelo mal, temos toda a autoridade de supor que a nossa, o sul do Brasil, pode ser uma delas. Não é uma questão de fé. Há indícios sólidos que apontam nessa direção. Porque, até agora, está tudo bem, se nos compararmos com outras partes do Brasil.
Nossa boa sorte pode ser devido à ação do governo do Estado e ao nosso comportamento. Ou pode ser por um conjunto de vários fatores, incluindo aí a ação do governo do Estado e o nosso comportamento. Ou por outras razões que a ciência ainda desconhece.
Não se pode ter certeza. Mas se pode ter esperança. Aqui, talvez, nós venhamos a atravessar esse vale das sombras sem sofrer tanto. Com as bênçãos da ciência, com a graça de Deus.