Desisti dos Vikings. A série, digo. Assisti à primeira temporada e gostei bastante. Assisti à segunda e gostei um palmo a menos. Ao chegar à terceira, me irritei. Porque senti que eles estavam me enrolando, saindo da narrativa mais ou menos baseada na História com agá maiúsculo e esticando os capítulos com abordagens metafísicas, os deuses nórdicos se tornando personagens, daqui a pouco o Thor chegaria voando com o martelo Mjölnir.
Mas o pior foi a desgraceira. Todos os personagens se dão mal. Todos! Parei de ver na parte em que um padre cristão vai decepar o nariz de uma moça porque ela traiu o marido. Nem sei se decepou ou não, larguei. Não gosto de ver narizes sendo decepados. Vou procurar outra série mais amena para enriquecer meus dias de confinamento. Friends, talvez?
Aliás, isso de vikings e mulheres de nariz cortado. Há uma história da História que reúne os dois ingredientes. Deu-se no princípio das invasões vikings à Inglaterra, no século 8. Os vikings desembarcaram numa praia inglesa e estavam prestes a atacar um mosteiro. As monjas ficaram desesperadas, sabiam que não havia salvação. Então, para evitar o estupro coletivo, decidiram tornar-se pouco desejáveis para os assaltantes. Como fazer isso? Simples: deceparam os próprios narizes e fenderam os próprios lábios a golpes de machado e faca. Quando os vikings chegaram e viram aquilo, argh, realmente sentiram repulsa e não violaram as freiras. Apenas tocaram fogo no mosteiro e todas morreram queimadas lá dentro.
E você ainda reclama do corona...
O fato é que o mundo já viveu dias mais duros do que estes pelos quais estamos passando. Houve pestes mais mortais e mais contagiosas, num tempo de ciência atrasada e de recursos parcos. Houve guerras horríveis e matanças cruéis. Inclusive, durante esse longo período das invasões vikings, que durou 300 anos, os europeus rezavam assim, ajoelhados no chão das igrejas:
– Senhor, livrai-nos da fúria dos nórdicos!
Imagine o medo que sentiam.
Ou seja: nada de drama. A humanidade não vai acabar por causa do corona, nem entrar na Era de Aquário quando o confinamento terminar. O mundo não mudará para sempre. Na verdade, mudará bem pouco e, salvo alguns indivíduos mais perspicazes, ninguém compreenderá o que realmente importa.
E o que realmente importa?
As pessoas.
Não são as ideias, não são as verdades, não são as conquistas, as derrotas ou as vitórias.
São as pessoas.
Tempos atrás, um amigo meu morreu e outro amigo, ao saber da notícia, comentou:
– Era um grande cara. Me afastei dele por causa da política, mas era um grande cara, de quem gostava muito.
Aquela declaração me deu uma tristeza... Porque ali estava o afeto reconhecido depois da morte, quando já não valia mais nada. E é assim, é sempre assim. Como perdemos tempo nos importando com o que não vale nada.