Cristina Ranzolin escreve no lugar do colunista David Coimbra, titular deste espaço, que está em férias
Era um domingo daqueles… céu azul, nenhuma nuvem e sol rachando. Meu pai e eu caminhávamos pela praia quando uma mulher veio correndo em nossa direção:
– Moça, posso fazer uma pergunta? Qual o bronzeador que você usa?
Era a décima vez que nossa caminhada era interrompida pelo mesmo motivo. Meu pai nem me deixou abrir a boca, saiu logo dizendo:
– Sabe o quê? Ela tem, sim, um segredo pra ficar com essa cor, mas não é a marca do bronzeador, não. É o jeito que ela usa! Toda manhã, antes de vir à praia, ela toma duas colheradas de bronzeador! - Não sei de onde meu pai tirou aquilo, mas espero que a mulher tenha entendido a ironia e não tenha experimentado. Acho que minha risada denunciou tudo.
Conto este episódio real, que aconteceu em Torres, quando eu ainda era uma adolescente, para dizer que meu bronzeado sempre chamou a atenção. Desde pequena me perguntavam qual bronzeador eu usava, o que eu comia antes de me expor ao sol, qual o segredo da minha cor… Quando passeava na praia com minhas amigas, ninguém queria ir do meu lado porque se sentiam brancas perto de mim mesmo que estivessem há um mês tomando sol. Bom, quando comecei a trabalhar na TV, então, isso ganhou outra dimensão.
Naquela época, quem aparecia no vídeo, quando saía de férias, era orientado a não tomar sol, porque diziam que o bronzeado ficava feio na TV. Sei de colegas que até chegaram a ficar de quarentena, trabalhando só atrás das câmeras até que desbotassem um pouco. Mas logo viram que comigo isso não seria possível, a menos que eu fosse afastada pelo verão todo e parte do outono.
É que quando o calor começa, minha cor já acende. Tenho a impressão de que eu bronzeio mesmo não estando diretamente ao sol, só com o calor do dia, com a luminosidade mais intensa. E isso não é um privilégio só meu, mas de toda a família da minha mãe. Minha vó, que frequentemente veraneava com a gente, ficava preta no terceiro dia de praia. Minha mãe, eu, meu irmão, meus primos, todos são assim… Genética? Excesso de melanina? Já ouvi de tudo.
Trabalho na TV há 32 anos e todo verão, quando volto de férias, começa o ti-ti-ti. No início recebia cartas perguntando o que eu fazia. E as telefonistas da TV atendiam a diversas ligações de telespectadores querendo saber “minha receita pra bronzear”. Com a chegada das redes sociais, virou uma loucura. E as teorias também. Há quem não acredite de jeito nenhum que seja natural e jure que até já me viu em câmaras de bronzeamento. Há quem me critique por achar que, nesses tempos em que nossa camada de ozônio está esburacada, eu deveria dar o exemplo e não aparecer com todo esse bronze no ar, pois posso estar incentivando as pessoas a se exporem e terem um câncer de pele. Há quem acha que minha cor é feia, e aí outros saem em minha defesa, dizendo que é pura inveja. Já vi até brincadeiras de que minha cor virou uma tonalidade de tinta e fotos de bronzeadores que tinham meu rosto estampado no rótulo. Mas a maioria gosta, só que não acredita que não exista um “segredinho para um bronze tão perfeito e parelho”. Muitos seguem querendo descobrir, afinal, o que me deixa com essa “cor de cuia, morena, mais bronzeada do que muita gente de cor negra mesmo”.
Bom, até acho que há algumas coisas que ajudam, mas primeiro quero lembrar uma coisa, lá atrás. No tempo em que meu pai fez a brincadeira sobre tomar bronzeador, ninguém falava em filtro solar. As pessoas passavam bronzeador mesmo, quase sempre alguma coisa oleosa, que deixava todo mundo melado. Lembro do tal Rayto de Sol que era uma febre, depois começaram a surgir os bronzeadores caseiros, cada um inventava o seu, até banho de Coca-Cola as pessoas tomavam e tinha gente que se queimava feio com algumas invenções malucas que incluíam folhas de figueira ou sei lá o quê.
Eu, quando criança, nem passava nada. Minha mãe só colocava boné em mim e no meu irmão e nem se preocupava muito porque sabia que o sol não agredia a nossa pele, ao contrário do meu pai, que se não se cuidasse virava um camarão e gastava potes de Caladryl durante a noite. Mas o sol ressecava minha pele, sim. E um creme hidratante, depois da praia, era bem-vindo.
Com o crescimento da indústria de cosméticos, e o meu também, passei a colocar alguma coisa antes de ir pro sol, porque isso prevenia um ressecamento depois. E quando chegaram os protetores solares aderi direto, porque, apesar de não ter problemas com queimaduras, sei que a radiação solar está cada vez mais intensa e os raios UV são mesmo danosos para o envelhecimento e perigosos porque podem causar câncer de pele até mesmo para que tem mais resistência ao sol, que é o meu caso.
Hoje não me exponho de jeito nenhum sem proteção, uso diariamente filtro solar fator 50 no rosto, inverno e verão. E quando vou à praia, antes de sair de casa, já passo proteção no corpo todo.
E, mesmo assim, me bronzeio, e muito.
Confesso que adoro o sol, ele me dá uma energia incrível. Meu marido não acredita nisso, porque depois de um dia à beira-mar ele sempre se sente cansado. Eu não consigo estar na praia e ficar embaixo de uma barraca ou guarda-sol. Algo me puxa para o sol, mas procuro me controlar. Acredito que minha alimentação saudável, sempre com muita verdura e fruta, contribua para minha facilidade de tomar sol e manter a pele bronzeada por mais tempo. E me cuido muito. Nos primeiros dias de férias, aumento a proteção do filtro, uso um fator mais alto e depois diminuo, mas nunca menos de 50 no rosto e 15 no corpo. Depois do banho em casa, tomo outro banho de creme hidratante.
Minha filha já aprendeu esses meus “truquezinhos” e, mesmo loira, fica com um bronzeado lindo, talvez tenha herdado um pouco dos meus genes, da minha melanina.
Bom, sei que apesar de tudo o que contei pra vocês aqui, ainda vai ter gente espichando o pescoço para o meu lado na praia pra ver qual a marca do meu protetor solar, mas isso eu não conto não! Quem sabe um dia eu não venha a lançar minha marca própria no mercado?