Fernando Pessoa dizia que sua pátria era a língua portuguesa. Para ele, pouco importava se Portugal fosse invadido, submetido e colonizado por outra nação, mas uma página mal escrita soava-lhe como ofensa. Como o desterro. Pior: como uma escarrada.
Pois esse amante amantíssimo da língua portuguesa proferiu suas últimas palavras na inglesa. É que a mãe de Fernando Pessoa mudou-se para a África do Sul quando ele tinha sete anos de idade. O inglês, portanto, foi o idioma no qual o poeta se alfabetizou.
Posso prever esse futuro hipotético: o Grêmio perderia o título para o Inter, e aí o clube e Renato ficariam marcados pela derrota para a eternidade, como uma maldição.
Em 2010, durante a Copa do Mundo da África, fiz questão de visitar o colégio em que ele estudou, em Durban. A escola estava fechada, mas, ao descobrir que no pátio fora plantado um busto de Fernando Pessoa, insisti até que a abrissem. Consegui. Entrei no prédio, visitei as salas onde supus que Pessoa estudou e tirei uma foto ao lado de sua cabeça de bronze.
De Durban, Fernando Pessoa saiu sozinho, já rapaz, para fazer a faculdade em Portugal. Nos 30 anos seguintes, ele se transformaria no poeta mais universal da língua que amava, equiparando-se ao caolho Camões.
Fernando Pessoa era um homem estranho. Sabia-se que não tinha nenhum apetite sexual, mas muito apetite etílico. Tanto que a cirrose hepática o arrastou para o hospital em novembro de 1935, e foi lá, no leito de morte, que ele disse suas últimas palavras, que, segundo um amigo, foram prosaicas:
- Dá-me os óculos.
Isso em português da pátria-mãe. Mas as últimas palavras que ele ESCREVEU, que é o que importa, ah, essas foram em inglês. Um dia antes de sua morte, ele rabiscou;
“I know not what tomorrow will bring”.
Eu não sei o que o amanhã trará.
E quem sabe?
No caso de Pessoa, o amanhã trouxe-lhe a morte. No nosso caso, apreensivo leitor, esperemos que traga só coisas boas.
Essa atividade, de antecipar o que virá, mesmo que se saiba demasiado do que se fala, é incerta. Até porque, às vezes, um presente que parece funesto é, na verdade, o prenúncio de um futuro melhor.
Mire-se no exemplo do sortudo Renato Portaluppi, que ele tem sorte: a derrota vexatória para o Athletico Paranaense parece uma tragédia. Mas pense: e se o juiz marcasse aquele pênalti legítimo e sonegado, e o Grêmio se classificasse, o que aconteceria?
Posso prever esse futuro hipotético: o Grêmio perderia o título para o Inter, e aí o clube e Renato ficariam marcados pela derrota para a eternidade, como uma maldição, como um Caim, com seu estigma gravado na testa.
Agora, batido e enxovalhado, Renato terá oportunidade de consertar o time e, talvez, vencer a Libertadores. Pode vencer? Claro que pode? Ou não. Porque, pelo menos por enquanto, eu não sei o que o futuro trará.