"Sanduíche, salsicha e ovo! Dez rands! Dez rands!" Foi gritando essa frase durante a Copa do Mundo de 2010 que o moçambicano Lino Alfredo Nhavene conseguiu faturar o suficiente para o comprar a casa própria em Maputo, capital do país africano.
O vendedor de 30 anos se mudou para a África do Sul alguns meses antes de o evento começar.
- Eu tenho um amigo aqui em Soweto, e ele disse para eu vir trabalhar com ele. Eu estava sem emprego em Moçambique e decidi arriscar. Vendi tanto sanduíche que comprei minha casa própria - conta o vendedor.
Outro ambulante que também faturou alto no estádio Soccer City foi Zuma Xolani. O sul-africano de 51 anos trabalhou vendendo fotos.
- Eu tiro a foto das pessoas e imprimo na hora. Normalmente, vendo por 20 rands (R$ 4,20), mas na Copa do Mundo eu estava vendendo por 50 rands (R$10,70).
Morador da favela de Soweto, Xolani afirma sentir saudades do Mundial. Além de ter lucrado com a venda de retratos, o sul-africano diz ter se comovido com o clima de união que tomou o país.
- Turistas de todas as cores se abraçavam e diziam amar a África do Sul. Tenho muito orgulho de ter eternizando este momento para as pessoas por meio das minhas fotos.
Melhora no transporte e Infraestrutura
Conforme informações da província de Gauteng, cerca de R$ 10 milhões foram destinados para a criação de um centro de transportes em Nasrec, que hoje abriga a estação do famoso ônibus Rea Vaya, que liga Soweto com o centro de Joanesburgo e o subúrbio de Braamfontein. Além disso, o trem de alta velocidade Gautrain, também criado para o megaevento de 2010, facilita o acesso das principais áreas da capital com a cidade vizinha de Pretória e ao aeroporto internacional O.R. Tambo.
A comerciante e cozinheira Lethiwee Bultelezi, de 41 anos, é uma das beneficiadas. Moradora de Soweto, a sul-africana percorre a capital montando a sua barraquinha de comidas típicas africanas.
- Antes do Vaya (ônibus de alta velocidade), eu levava quase duas horas (hoje faz o percurso em 40 minutos) e precisava pegar as vans, que eram os únicos meios de transporte entre Soweto e o centro - conta.
Para o urbanista sul-africano Udesh Pillay, o sistema de transporte e a modernização da infraestrutura do país é o único legado vantajoso da Copa do Mundo de 2010.
- O Mundial foi um catalisador de planejamentos já existes. Isso foi muito benéfico para a população no geral - afirma.
Aumento no turismo
O turismo de fato aumentou. Estatísticas do Departamento de Turismo Sul-africano mostram que mais de 300 mil estrangeiros visitaram o país somente no mês de junho de 2010, sendo que 60% nunca haviam pisado em solo africano antes, e 90% afirmaram desejar retornar.
- Foi o maior legado com certeza. A imagem da África do Sul mudou e entrou para o mapa do turismo por lazer. A indústria turística sul-africana aproveitou este momento e investiu em campanhas para continuar promovendo o país internacionalmente - explica Kagiso Mosue, porta-voz do Conselho Empresarial de Turismo na África do Sul (TBCSA, na sigla em inglês).
Antes da Copa (de 2006 até 2009), o país tinha um crescimento médio de 5% no número de visitantes estrangeiros por ano. Depois do Mundial (de 2010 até 2012), este aumento médio anual subiu para 10%.