Os seres vivos mais extraordinários do planeta Terra são as árvores. Nada que respira e cresce, nem os felinos mais ferozes, nem os peixes das profundezas mais misteriosas, nem homens e mulheres falantes, nada é mais majestoso do que uma árvore. Não precisa sequer ser uma rainha, como a sequoia General Sherman, que há 40 séculos contempla a Califórnia de cima de seus 84 metros de altura. Não. Pode ser uma dessas pequenas árvores de canteiro. Pare e observe qualquer uma, em qualquer avenida ruidosa da cidade. Você verá que um mundo sobrevive em torno dela e graças a ela: insetos a frequentam, passarinhos dormem sob suas folhas e o solo é alimentado pelos frutos que caem em volta da sua raiz.
Sou um admirador das árvores. Se disser que tenho uma ligação com elas, você pensará que estou endoidando, mas a verdade é que tenho. O que não significa que elas tenham comigo. Infelizmente, nenhuma árvore jamais moveu uma única folha por mim. Elas não me dão bola. Tudo bem, as humanas já me acostumaram à indiferença.
Porto Alegre é uma cidade amplamente arborizada, e há um homem responsável por isso: Guilherme Socias Villela, prefeito nos anos 1970, abriu centenas de praças e parques e mandou plantar… atenção para o número: mandou plantar 1.150.000 árvores na cidade. Eu escrevi: um milhão cento e cinquenta mil árvores!
Não quero, na minha cidade, o aço da Torre Eiffel. Não quero o concreto do Empire State. Quero o verde de 1 milhão de árvores.
Não quero, na minha cidade, o aço da Torre Eiffel. Não quero o concreto do Empire State. Quero o verde de 1 milhão de árvores.
Pois bem. O Paulo Germano contou, em sua coluna, que 20% das árvores da cidade, cerca de 260 mil delas, estão infestadas com erva-de-passarinho, que lhes perfura o tronco e suga-lhes os nutrientes, enfraquecendo-as e podendo levá-las à morte. É grave. É uma ameaça à essência do que é Porto Alegre.
Estamos perenemente sob ameaças, nós, porto-alegrenses. Olhe para a rua mais bonita do mundo, a Gonçalo de Carvalho. Ele é bonita justamente por causa de suas árvores, que são mais de cem, tocando-se no céu, formando um túnel de remanso e mansidão. Tempos atrás, quando foi construído o Shopping Total, engenheiros insensíveis planejaram derrubar parte das árvores da rua para dar saída ao estacionamento do prédio. A comunidade se mobilizou e impediu o crime. Ufa.
Mas agora nós estamos mais empobrecidos e, por isso, mais frágeis, mais suscetíveis à força da grana. E começam a surgir as propostas indecentes. Um espigão que se levanta em uma região de casario histórico, um projeto de prédios de apartamentos que privatizaria a vista do rio, coisinhas assim, que parecem irrelevantes agora, mas que nos roubarão a graça depois. Enquanto isso, as árvores, tomadas por parasitas, morrem lentamente, sem que ninguém faça nada para ajudá-las. Vamos ajudar nossas árvores, irmãos porto-alegrenses. Vamos salvá-las! Assim, salvaremos a própria alma da cidade. E a nossa também.