É verdade que não existe mais reunião dançante? O Potter disse isso outro dia. Não estou atualizado no assunto, fiquei em dúvida. Não existe mesmo?
Seria uma pena.
Já me dei bem em reuniões dançantes. Por quê? A resposta está em uma única palavra: pla-ne-ja-men-to. Eu tinha método, entende? Um sistema. Em primeiro lugar, fazia uma prospecção da lista de convidados. Sabedor das meninas que iriam, escolhia o meu, digamos, público-alvo e me concentrava nele.
Foco.
Foco é fundamental.
A segunda etapa era o convescote propriamente dito. Em geral, esses encontros começam com a formação clássica: gurias de um lado, guris de outro. Na primeira música, ficam todos se olhando, mas ninguém se move. Eu, não. Eu era arrojado. Eu abria a festa. E, é claro, tirava para dançar a moça que já havia adrede escolhido. A partir daí, tudo dependia do meu talento.
Dependia também, é forçoso admitir, do DJ. Porque minha especialidade eram as lentas. Nas lentas é que a ação acontecia.
É assim: você a enlaça pela cintura suavemente, nada de agressividade nos movimentos preliminares. No entanto, é preciso segurá-la com alguma firmeza, sem a desprezível mão mole. Quer dizer: firme e suave como se estivesse empunhando uma taça de cristal tcheco com uma dose de Petrus dentro. Se ela espalmar as mãos no seu peito, como que o afastando, péssimo sinal. Ela quer manter distância. Mas, se ela cruzar as mãos atrás de sua nuca, ah, eis um indício alvissareiro.
Johnny Rivers está convidando:
“Do you wanna dance and hold my hand?
Tell me that I’m your man
Baby, do you wanna dance?”.
E você ondulando com a mulher da sua vida daquele dia, sentindo o odor inebriante do perfume que ela borrifou no pescoço comprido de garça branca das nascentes do Reno. Então, você sente que a pele dos dedos dela encostou na pele da sua nuca. Gol do Brasil. É hora de avançar mais um pouco. Libere os laterais para o ataque. Você faz com que sua mão direita suba até o meio das costas dela e exerce leve pressão. A mão esquerda continua na cintura, cautelosamente.
Johnny agora está perguntando se ela quer dançar sob a luz do luar e ela roçou o rosto no seu rosto. Isto é: está indo tudo bem, você pode, definitivamente, colar sua face esquerda na face esquerda dela. Oh, toda aquela maciez fará seu coração bater mais forte, meu velho, eu sei bem disso, mas nada de se emocionar antes da hora. Concentre-se!
Johnny Rivers repete: você quer dançar, você quer dançar, você quer dançar? E então… Ah, e então ela acaricia sua nuca com aqueles dedinhos finos e quebradiços de palitinhos de queijo. Esse é o grande momento! Recue um pouco a cabeça, faça com que a comissura de seus lábios encostem na comissura dos lábios dela. Se ela não entesar e fincar as mãos no seu peito, vá em frente: beije-a, my friend! Você é o cara.
Mas tudo só deu certo graças ao planejamento. Pla-ne-ja-men-to. Que faz as obras públicas terminarem no prazo certo e constrói os mais envolventes relacionamentos amorosos.
Você pode usar as minhas táticas, querido leitor. Vá em frente, bote Johnny Rivers para rodar, seja feliz. Se ainda houver reunião dançante.