Depois que tive filho, comecei a sentir medo. Não que antes fosse um valentão. Não era, embora também não me achasse covarde. Você pode ter coragem e medo ao mesmo tempo. Ou ser um valentão que pratica covardias. No meu caso, o que acontecia, antes do advento da paternidade, é que me permitia certas irresponsabilidades, certos desatinos, sem me preocupar com as consequências. Afinal, só eu seria atingido por elas.
Mas, depois que o Bernardo nasceu, fui me transformando. O uso do gerúndio, no caso, é preciso: as coisas foram acontecendo aos poucos dentro de mim. Mas eu sabia que estavam acontecendo e sofria com isso.
Quando você gosta de ser pai e tenta ser o melhor pai possível, você entende que tudo o que faz, tudo, absolutamente tudo está sob observação e produzirá resultados futuros.
Quando você gosta de ser pai e tenta ser o melhor pai possível, você entende que tudo o que faz, tudo, absolutamente tudo, está sob observação e produzirá resultados futuros.
Resultados positivos ou negativos.
Então, a brincadeira acabou. Você tem de levar a vida a sério. Donde, o medo. De falhar. De decepcionar.
O grande trauma se dá quando você olha para si mesmo e conclui: “Cara, eu não posso apresentar ISSO para o meu filho!”. Aí você tenta ser uma pessoa melhor. Às vezes, dá certo. Só que é muito defeito para corrigir...
Claro, a gente vai aprendendo, vai se adaptando, mas note que ainda uso o gerúndio. Quer dizer: a mudança continua. Hoje, já defini o meu objetivo: é me tornar a pessoa que eu sempre deveria ter sido.
O destemor da vida de solteiro, descompromissada, torna-a animada. Às vezes você enfrenta um perigo, mas, depois que passa, é engraçado. Você conta para os amigos e dá risada.
Eu, durante grande tempo da minha solteirice, gostava de, volta e meia, ficar incomunicável. Um solteiro pode fazer isso, porque ninguém depende de você.
Bem, eu não tinha celular e, o melhor, nem telefone fixo. Em uma época sem wi-fi, você só conseguia me encontrar se tivesse combinado antes ou se batesse lá em casa. E eu podia não atender.
Então, quando queria, ficava sozinho. Se você gosta da sua própria companhia, pode ser divertido.
Os dias em que mais me apetecia ficar isolado eram os do fim de semana. Porque o agito é de segunda a sexta. Sábado é para os amadores.
Então, eu ia primeiro a uma locadora de vídeos que havia numa esquina e alugava uma pilha de filmes. Depois, ia ao Zaffari que tinha na outra esquina, enchia o carrinho de mantimentos e voltava para casa. Pronto, eu estava abastecido com tudo de que precisava nas próximas 48 horas.
Porém, ah, porém, às vezes acontecia de eu estar envolvido emocionalmente com uma moça. Aí, não apenas aceitaria, mas desejaria companhia no sábado à noite. E mais: tentaria impressioná-la com meus dotes culinários. Porque, você deve saber, algumas mulheres, se bem alimentadas, mais facilmente se lhes abrem as portas do coração.
Foi o que aconteceu certa feita. E aquela era uma mulher especial. Ela fazia algo que poucas fazem. O quê? Já conto.