Eu agora como ovo no café da manhã. Culpa da Marcinha. Ela entrou nessa história de regular os carboidratos, inseriu ovos no breakfast e acabei me afeiçoando pela coisa.
Quem a incentivou a fazer esse regime foi o irmão dela, o Guilherme. O Guilherme se preocupa muito com a saúde, a alimentação e tal. Ele não come espaguete, ele ingere carboidratos. Ele não bebe água, ele se hidrata. No churrasco, mastigando uma picanha, o Guilherme comenta:
– O consumo de proteínas faz bem para reparar o tecido muscular.
Um primo dele, o Rick, é igual. Você tinha de assistir a uma conversa dos dois. Um dia, vi o Rick perguntando para o Guilherme:
– Como está o teu nível de ácido úrico?
E o Guilherme sabia!
Então, com fartura de dados, ele convenceu a Marcinha a reduzir drasticamente os carboidratos.
Quero informar que não aderi a tamanha loucura. Sou um amante da comida italiana, das massas, dos pães e até, por que não?, da lasanha. Mas um ovo na primeira hora do dia me apetece. Vi na internet um médico dizendo que o ovo tem tudo de que necessita a vida, tanto que, dele, sai um pinto. Achei um argumento irrefutável.
Ovo é alimento nobre. O príncipe Charles gosta de comer um depois das caçadas. No caso, cozido. Mas o príncipe é extremamente exigente quanto ao ponto de cozimento do ovo. Ele se irrita quando a gema ou a clara não estão perfeitas. Assim, para não errar, a cozinha do palácio prepara sete ovos, acomoda-os em tacinhas de prata, numera-os e os enfileira em frente a colherinhas especiais. O príncipe chega, vai no primeiro, quebra-lhe a casca e experimenta:
– Não. Esse não.
Vai no segundo, repete o processo, e:
– Definitivamente, não.
Mas, de repente, Charles se encontra com o ovo ideal, devora-o com sofreguidão e suspira:
– Com efeito… deveras… That is the egg!
O OVO IMPECÁVEL TEM DE FERVER POR DOIS MINUTOS E CINQUENTA SEGUNDOS, NÃO MAIS, NÃO MENOS. TENTE, E VOCÊ PROVARÁ O MANJAR DE UM PRÍNCIPE.
Se eu trabalhasse na cozinha do palácio, saberia preparar o ovo impecável: ele tem de ferver por dois minutos e cinquenta segundos, não mais, não menos. Tente, e você provará o manjar de um príncipe.
Mas o ovo que agora como pela manhã não é cozido, é frito. E nem é um, são dois. Era o que queria contar para você. Não é para me gabar (ou talvez seja), mas alcancei uma acurácia na fritura do ovo que me enche de orgulho. Nada da clara (eu disse: NADA) fica líquido. Nada da gema (eu disse: NADA) fica sólido. E as bordas desprendem-se da frigideira douradas, nunca negras. O sal, eu o distribuo com equanimidade, sem excesso ou escassez. E, às vezes, quando acordo com o espírito mais requintado, salpico um pouco de pimenta-do-reino na branca clara.
Há duas formas de fazer esse ovo. A tradicional, com óleo ou manteiga, e uma a que me dedico nos finais de semana, por dispor de mais tempo. Essa, não é para me exibir (ou talvez seja), aprendi num café de Nova York. É assim: deito finas fatias de bacon na frigideira e as frito em fogo baixo. A parte branca do bacon, a gordura, exsudará com o calor. É nesse óleo que fritarei os ovos. Mas não todo. Ah, não! Retiro a maior parte com uma colher e jogo fora sem pena. Esse processo é lento, mas os resultados compensam. O ovo ganha outro sabor e o bacon que resta, crocante e cheiroso, vai para a mesa. Depois, você pode acrescentar lâminas de queijo gouda ou, algo que só se faz fora do Brasil, tiras de abacate. Sim, sei que os brasileiros se escandalizam se o abacate não vem amassadinho e temperado com açúcar, eu mesmo repilo o abacate na salada, mas a combinação com ovo, creia, funciona.
Eis, pois, uma nova modalidade de desjejum para você, faminto leitor. Prepare o café preto e delicie-se. Você levantará da mesa alimentado, feliz e magro. Ah, nós magros também sabemos viver bem.