Os americanos chamam o Estado da Virgínia de Vrdgínia. A palavra sai meio anasalada, como se tivesse um til entre o vê e o erre. V~rdgínia. Acho bonito.
Quem deu esse nome ao Estado foi Sir Walter Raleigh, um marinheiro que… Na verdade, chamar Walter Raleigh de marinheiro é uma redução tosca. Raleigh teve uma vida que merecia uma série da Netflix. Era um super-homem. Foi pirata e poeta, historiador e explorador, viajou por todo o mundo, inclusive pelo Brasil. E era um galanteador. Um dia, a rainha Elizabeth I caminha pelas ruas de Londres e, no meio do caminho, havia uma poça d'água, havia uma poça d'água no meio do caminho. Raleigh, airoso, tirou a capa de sobre os ombros e estendeu-a na água para a soberana passar. Ela ficou encantada. Depois disso, dizem as más línguas do século 17, eles se tornaram amantes.
O Brasil ainda está no passado. Vivendo no passado, ninguém sabe como o futuro pode ser melhor.
Foi justamente em homenagem à rainha Elizabeth que Raleigh, ao chegar às inexploradas terras norte-americanas, chamou-as de "Virgínia". Porque Elizabeth era conhecida como "a rainha virgem". Neste momento, você vai desconfiar: "Como é que ela era virgem, se foi amante de Raleigh?". Há explicação, perspicaz e suspicaz leitor. É que ela era virgem por dois motivos: de direito, porque nunca se casou; de fato, porque, segundo certos historiadores maliciosos, sofria de um mal chamado "hímen complacente". O hímen real, por mais que fosse golpeado e vergastado durante o amor, comportava-se como uma defesa formada por Kannemann e Geromel: não se rompia. Muitos médicos se ofereceram para resolver o problema com uma cirurgia razoavelmente simples, mas Elizabeth jamais aceitou.
Por quê?
Porque ela temia a dor que sentiria quando o hímen fosse cortado. Na época, lembre-se, a anestesia não havia sido inventada.
Agora pergunto: como o ser humano viveu tanto tempo sem anestesia? Dentes arrancados, membros serrados, cortes costurados, tudo era feito no seco, com o paciente desperto e, não raro, amarrado. Os antigos egípcios faziam trepanações sem anestesia, imagine.
Nós vivemos no melhor mundo que já existiu, desde que o primeiro Homo sapiens desceu das árvores, na África, há uns 300 mil anos. Nós temos anestesia e a medicina nos fará viver até os 120 anos, como predisse a Bíblia no Gênesis. Nós comemos melhor e nos vestimos melhor. Nós temos a noção universal de que os direitos humanos e a democracia são bens em si mesmos. Nós temos leis que protegem os mais fracos. Nós temos mais respeito por minorias e pela diversidade.
Mas ainda temos muito a melhorar. E, quando o mundo melhorar e já não estivermos mais entre a sua superfície e o sol, o que os pósteros dirão da maneira como vivíamos? Quando souberem, por exemplo, que em grandes cidades do Rio Grande do Sul faltava energia elétrica depois de cada chuva e que milhares de residências ficavam sem luz todas as semanas? Você pode imaginar o que dirão?
Eu posso. Eu sei. Basta contar isso a um americano, a um europeu ou a um japonês. Eles ouvem isso, abrem a boca e se espantam:
– Como os brasileiros conseguem viver assim?
Como? Sei por quê. É porque o Brasil ainda está no passado. Vivendo no passado, ninguém sabe como o futuro pode ser melhor.