Faço mate todos os dias. Sou um homem de hábitos. Não diria que arraigados, porque posso, sim, mudá-los, suspendê-los e até extingui-los, dependendo da conveniência. Mas, não havendo conveniência, fico com os hábitos. Não me importo de fazer sempre as mesmas coisas. Aquele restaurante tem bom filé? É lá que vou comer filé. O outro tem bom peixe. É onde comerei peixe. Já acertei, por que mudar?
Mulheres gostam de novidades. "Ai, vamos a um lugar diferente...". Para quê? Para arriscar, é isso? Além do mais, lá eu não conheço os garçons.
Outra: viagens. Não sinto nenhuma vontade de conhecer lugares exóticos se esses lugares não tiverem hotéis com bons banheiros. O Paquistão, o Uzbequistão e o Afeganistão, o Congo, a Somália e o Zimbábue? Estou fora.
Prefiro ficar em casa, fazendo meu mate. Faço-o com critério. Primeiro, temos a delicada questão do morrinho, que haverá de ser bem alinhado, liso, reto como o caminho da virtude. Mas não admito aplainá-lo com um prato, como muita gente faz. Aplainar morrinho de mate com prato não é gaudério. Aplaine com a mão!
Sei bem que a grande polêmica do mate é a temperatura da água. As pessoas vêm com essa história de "não pode ferver". Por que não pode ferver? Não me diga que muda o gosto da água. A água, me ensinaram no primário, é incolor, inodora e, sobretudo, insípida. "Ah, vai queimar a erva". Basta esperar um pouco. Se você esperar um pouco, a água baixa dos 100°C. "Ah, dá câncer de esôfago". Se você esperou, a água não queimará o seu esôfago.
Deixo a água ferver, portanto.
Assim, é só acoplar a bomba, sempre tapando o bocal com o polegar, para não entupir, e pronto, posso tomar meu mate.
Dizem que o mate ajuda o gaúcho a pensar, sempre repito isso, que gosto. Mas, no caso, é menos pensar e mais olhar. Tem tanta coisa para olhar na internet e na TV, tanta coisa para ler no jornal e ouvir no rádio, que acabo olhando pouco.
Na hora do mate, olho.
Ontem, sentei com meu mate bem aqui na sacada e olhei para baixo e vi uma mãe fazendo uma hortinha com seus dois filhos, na varanda de sua casa. Eram crianças pequenas, na primeira infância ainda, um menino e uma menina. A mãe estava agachada diante de um vaso retangular de cerca de metro e meio de comprimento. Afofava a terra, colocava um pouco de água, pedia uma ferramenta ou outra para as crianças, que pareciam interessadíssimas em ajudar.
Ela explicava o que era cada planta e como iria crescer e que frutos daria. Lembrei que, quando era pequeno, também fiz uma horta com minha mãe, lá na nossa casa no Parque Minuano. Mais do que isso: semeei árvores com minhas próprias mãos, entre elas um abacateiro, que, soube outro dia, ainda vive, firme e robusto. E, pegado à cerca de madeira, num canto do quintal, plantei um tomateiro que cresceu com grande velocidade.
Um dia, ao ir brincar no pátio, encontrei-o, ao meu tomateiro, pejado de tomates verdes, como uma árvore de Natal. Fiquei excitadíssimo, mas minha mãe me convenceu a esperar que os tomates amadurecessem. Esperei com impaciência. Todos os dias ia lá, ver como estavam os tomates. Numa manhã de domingo, por fim, eles se apresentaram belíssimos, redondos, de um vermelho luzidio. Corri para mostrar à mãe e ela acedeu:
– Agora, sim!
Naquele domingo, a salada foi feita com os frutos do meu tomateiro. A melhor salada que jamais comi. Até hoje lembro com orgulho daqueles tomates, que, de certa forma, eram obra minha.
Agora, vendo uma mãe preparando uma horta com seus dois filhos, penso que a vida podia ser sempre assim, transcorrendo do fundo do quintal para a mesa da cozinha, sem grandes mudanças, sem grandes novidades. Para que tanta novidade? Sou, mesmo, um homem de hábitos.